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Você sabia que cerca de 37.937.619 milhões de aves são mantidas nas casas dos brasileiros? Esses dados foram coletados a partir da Pesquisa Nacional de Saúde em parceria com o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013. Provavelmente o número deve ser maior atualmente, quase 10 anos depois.

Destas quase 40 milhões de aves, grande parte foi obtida através do tráfico de animais silvestres. Venha entender quão fundo é este problema no texto que fizemos.

 

A beleza e riqueza do nosso país tropical

Foto: Eduardo Fragoso

O Brasil sempre é lembrado quando os assuntos são biodiversidade e beleza das aves, isso porque, dentre todas as espécies aviárias espalhadas pelo mundo, 10% delas estão abrigadas neste país.

A variedade e abundância de espécies silvestres, unidas à ineficiência e fraude da fiscalização e à baixa condição de vida de certas populações, atraem pessoas ao tráfico e comércio de animais, tornando-o, assim, um dos mercados mais lucrativos do mundo.

 

As maiores vítimas desse comércio

Estimar o volume do tráfico de fauna no Brasil é uma tarefa muito difícil, visto que os dados mantidos pelos órgãos governamentais competentes são, muitas vezes, imprecisos, desatualizados e fragmentados.

Um estudo recente adotou uma metodologia de estimativa baseada no número de apreensões feitas pela força policial ao longo de algumas décadas, que levou à constatação de que dentre as 30 espécies mais confiscadas do tráfico, 24 delas são aves, o que corresponde a 80% do comércio de animais silvestres para fins domésticos.

 

Mas por que esse comércio é tão lucrativo e utilizado?

A maioria dos caçadores e coletores provém de famílias pobres, que encontram neste comércio uma fonte de renda extra. Por isso, sujeitam-se a fornecer os animais aos pequenos e médios traficantes por um preço baixíssimo, buscando maiores quantidades para aumentar o lucro.

Os traficantes, por sua vez, cientes de todas as possibilidades de corrupção e desvio de fiscalização, fazem com que esses animais cheguem até os principais consumidores (que, no Brasil, se encontram principalmente nas regiões Sul e Sudeste), contribuindo para que essa comercialização de aves alcance a marca de cerca de 7 a 23 bilhões de dólares por ano. 

Foto: Crueldade à venda

 

Quais são as aves mais contrabandeadas do mundo?

Listamos agora 5 das principais espécies indevidamente comercializadas:

 

1 – Canário da Terra

Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766)

Foto: Alejandro Bayer

Esta espécie pertence à ordem Passeriformes e família Thraupidae, sendo mais frequentemente encontrada em regiões secas do território brasileiro. Caracteriza-se pela coloração amarelo-olivácea, tamanho médio de 13,5 cm de comprimento e cerca de 20g de peso. Além, é claro, do seu belo e forte canto, motivo pelo qual a faz estar entre as 5 espécies mais traficadas do Brasil.

Está categorizada como Menos Preocupante (LC) no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada em Extinção.

 

2 – Coleirinho

Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823)

Foto: Claudio Cesar

Esse passeriforme da família Thraupidae recebe esse nome devido ao inconfundível colar de penas brancas e negras presente na região do pescoço. Está distribuído ao longo de grande parte do território brasileiro, com exceção da Região Amazônica e Nordeste.

Ele se tornou alvo da captura indiscriminada devido à sua habilidade cantora, estando categorizada como Menos Preocupante (LC) no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada em Extinção.

 

3 – Trinca-ferro

Saltator similis (D’Orbigny & Lafresnaye, 1837)

Foto: Frodoaldo Budke

Este é um outro passeriforme da família Thraupidae apreciado pelos brasileiros devido ao seu canto. E seu som é tão marcante que faz com que seja frequentemente submetido a competições e torneios de cantos por seus donos.

Embora esteja categorizado como Menos Preocupante (LC) no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada em Extinção, há evidências de que possa estar ameaçado localmente em algumas regiões de sua ocorrência, situação resultante do tráfico.

 

4 – Pássaro-preto

Gnorimopsar chopi (Leverkühn, 1889)

Foto: Guia Animal

Também conhecido como Chopim, este passeriforme faz parte da família Icteridae e pode ser encontrado em todas as regiões brasileiras, com exceção da Amazônia. Possui uma beleza ímpar com a sua coloração negra brilhante, além de ser considerado o pássaro canoro mais melodioso do país.

É categorizada como Menos Preocupante (LC) no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada em Extinção.

 

5 – Papagaio-verdadeiro

Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) – NT

Foto: Octavio Campos Salles

O Papagaio-verdadeiro é um psittaciforme da família Psittacidae e encontra-se entre os animais mais popularmente procurados para a domesticação, isso se dá devido à sua capacidade de imitar a voz humana, beleza e comportamento dócil.

Para que possam chegar nas mãos dos consumidores, esses animais passam por situações extremamente estressantes, como a ingestão obrigatória de bebidas alcoólicas para impedir que façam barulho e contenção total em tubos de PVC para transporte em malas.

Sua classificação no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada em Extinção como Quase Ameaçado (NT) está diretamente relacionada ao grande volume do comércio da espécie.

 

Um perigo iminente

Como foi possível ver, muitas dessas espécies não estão categorizadas em estados preocupantes de conservação, entretanto, a pressão exploratória exercida sobre essas espécies é praticamente insustentável. As capturas são feitas com frequência e sem critério algum, além de se concentrarem nas épocas reprodutivas.

Por fim, é importante destacar que o impacto ecológico não se dá somente pela eliminação da espécie de seu ambiente natural, mas também na redução das populações, que leva ao desaparecimento de interações ecológicas significativas em um ecossistema.

Como em toda extinção existe um começo, não seria surpreendente o fato de que no futuro  essas espécies entrem para a lista de animais em risco de extinção, caso medidas eficientes para o combate ao tráfico não sejam colocadas em prática.

 

Não faça parte disso!

Não contribua você também com esse comércio que deixa rastros de sangue, lembre-se: Silvestre não é pet. Há muitas formas de admirar a beleza dessas espécies sem privá-las de sua liberdade.

 

Texto por Aléxia Ferraz

Revisado por Gustavo Figueirôa