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Você conhece as grandes personalidades da conservação? Ao longo dos anos, pudemos contar com alguns heróis que deram início a grandes ideias ou tiveram papéis importantes em determinados projetos de proteção ao meio ambiente. Seus princípios e histórias de vida são uma inspiração para nós, que formamos uma enorme corrente a favor da natureza.  

Vamos explorar a história desses gigantes aqui em nosso blog. A informação é nossa principal arma. Por meio dela, desejamos munir a população de conhecimento, inspirar cidadãos comuns e trazer o maior número de pessoas  para o “lado verde da força”.

Hoje, no Dia Mundial dos Tigres (29.07), iremos conversar sobre o indiano Ullas Karanth, biólogo e doutor em Zoologia Aplicada pela Universidade de Mangalore. Ou ainda: o principal homem responsável por trazer esperança às populações dos maiores felinos do mundo, os tigres.

Antes de mais nada: quem são esses animais?

Apesar do assunto principal desse blog ser a figura por trás da conservação desses grandes animais, a data nos pede uma pequena introdução sobre esses felinos (Panthera tigris).

Tigre-de-bengala (Panthera tigris tigris). Foto: Raju Kasambe.

Esses ilustres animais são um dos mais letais caçadores do reino animal. Possuem olfato, audição e visão apurados. Além do corpo musculoso e forte, que lhe permite abater presas de até 900 kg. Eles habitam os bosques, florestas e estepes do continente asiático. Dentre as 9 subespécies já descritas, 3 delas se encontram extintas e o restante, extremamente ameaçadas. 

Tigre-de-bengala (Panthera tigris tigris) batendo um rango. Foto: Nasser Halaweh.

Diante desse triste cenário, criou-se essa data em homenagem a eles. Isso, não para comemorar, mas para chamar atenção da comunidade global acerca da necessidade de lutarmos pela conservação desses animais que são imprescindíveis para o equilíbrio ecológico.

Por que estão tão ameaçados?

A Índia é o lar de, pelo menos, 60% dos tigres de todo o mundo. Há algumas décadas, a situação nesse país era extremamente difícil, tanto no âmbito social quanto econômico. Muitas pessoas recorreram à caça de variados animais (dentre eles, o tigre) na tentativa de sobreviver às custas da proteína selvagem.

Foto: Sharam Gödel/Wikimedia Commons.

Com a caça, o número de indivíduos diminuiu. Paralelamente, com a aproximação da sociedade aos habitats desse animal, muitas mortes humanas foram causadas. 

Com o passar dos anos, a agricultura e a pecuária foram ganhando posição de destaque no país, o que levou à diminuição quase que total da caça para sobrevivência. Entretanto, muitos animais foram mortos devido à caça esportiva e, atualmente, são alvos de captura pelo tráfico.

Onde entra o Dr. Ullas Karanth nessa história?

Ullas Karanth nasceu em uma pequena propriedade a oeste da Índia, no estado de Karnataka. Em uma entrevista, conta que crescer neste local foi um verdadeiro privilégio, já que a fauna e flora eram extremamente exuberantes por lá.

O seu fascínio pelos tigres se iniciou a partir da leitura dos casos de caça de Jim Corbett, onde este homem conta algumas tragédias causadas pela incompatibilidade de divisão de território entre os felinos e os humanos.

Foto: Bangalore Internacional Centre.

Esse gosto por esses animais estava longe de ser comum, até porque, muitas pessoas temiam esse felino feroz. Fato é que, apesar de crescer com esse amor quase que sobrenatural, Ullas se tornou um estudante de engenharia mecânica, mas não demorou até que percebesse que o seu coração pertencia à biologia.

Essa descoberta se deu a partir da leitura de um artigo do biólogo George Schaller, o responsável por realizar o primeiro estudo científico sobre tigres. Essa pesquisa foi o pontapé inicial para que o futuro conservacionista decidisse largar a engenharia e realizar o seu sonho de se juntar à profissão do estudo da vida. 

Hoje, sabemos que isso se concretizou, mas o que talvez muitos não acreditem, é que demorou 20 anos para isso acontecer. Se você quer conhecer a história desse homem, então continue acompanhando por aqui.

Enfim… biólogo!

Devido à grande ameaça desses animais – que na década de 60, parecia que iriam se extinguir, em 1974, iniciou-se uma forte implementação de leis ambientais, incluindo a contagem estimada de tigres pelos órgãos competentes. 

Foto: K Murali Jumar/The Hindu.

Naquela época, os responsáveis por gerar tais dados usavam os rastros desses animais, na certeza de que podiam identificar e distinguir os indivíduos somente pelas pegadas. Sabendo que esse método era falho, Ullas sempre se posicionava contra, alertando-os sobre a ineficácia dessa técnica. 

Infelizmente, ninguém deu ouvidos a aquele grande jovem. Mas determinado a trabalhar com estimativas de populações dos tigres, em 1994, quando se formou, começou a buscar alternativas satisfatórias para esse problema.

Quando começaram a chegar as primeiras armadilhas fotográficas mais acessíveis na Índia, investiu parte do seu dinheiro nesses equipamentos e começou a utilizá-las e obter excelentes imagens desses animais. Elas permitiam, sobretudo, que identificasse individualmente os tigres através das listras, que em outras palavras, são como as nossas digitais.

Foto: UF|IFAS – University of Florida.

Se você já é um amante da natureza, já sabe que as armadilhas fotográficas são grandes aliadas à conservação dos animais como um todo, sejam pequenos e misteriosos ou até mesmo, grandes e robustos. E foi com o Dra.Ullas Karanth que essa estratégia se iniciou! Pois é, ele foi o grande pioneiro, o primeiro a adotar essa técnica em prol da preservação.

Mas como a foto ajudou a contar a população de tigres?

Se você chegou a se perguntar isso, saiba que também foi uma dúvida que intrigou o então biólogo. Através das imagens e identificação, ele sabia o número exato de tigres mas… e aqueles que não haviam sido fotografados?

Como um bom engenheiro que também o é, Ullas sabia que existia algum recurso matemático que poderia lhe ajudar a analisar esses dados. Foi procurando essa resposta que realizou uma colaboração com Jim Nichols, o criador do método chamado ‘captura-recaptura’. 

Dr.Karanth conduzindo uma pesquisa com tigres. Foto: Fiona Sunquist.

Por funcionar perfeitamente, esse procedimento – armadilhas fotográficas e metodologia – é usado até hoje para estudar as populações de tigres e vários outros animais.

De um jovenzinho à uma celebridade!

O desenvolvimento de protocolos de armadilhas fotográficas fez com que ele não só conseguisse importantes dados sobre a espécie, mas também o reconhecimento mundial como conservacionista. Suas descobertas foram publicadas em revistas científicas renomadas, como por exemplo, Journal of Animal Ecology, Journal of Zoology e Conservation Biology and Biological Conservation. 

Foto: Deccan Herald.

Além disso, tornou-se autor de dois grandes livros sobre a temática, The Way of the Tiger e A View from the Machan, que foram publicados por nada mais nada menos que as universidades Columbia University Press, Cambridge University Press e Island Press. O seu fascínio pelos tigres foi amplamente coberto pelas grandes mídias internacionais, a começar pela Nature, Science, Time, New York Times, BBC, CNN e muitas outras.

Foto: New York Times/Divulgação.

E não para por aí… o seu trabalho árduo e comprometido o tornou membro científico da Zoological Society of London e hoje, atua também como conselheiro editorial de algumas revistas sobre conservação e do grupo Wildlife First, que luta em defesa da vida selvagem.

O que essa história nos ensina?

Nós da GreenBond gostamos de partilhar as histórias de grandes nomes da conservação para que vocês vejam que todo o trabalho e sucesso pela conservação nasce com uma ardente paixão pela vida selvagem associada à determinação.

Nunca é tarde para iniciar uma causa em prol desses seres que, em muitos momentos, não têm vez contra o predador mais feroz do nosso planeta: os humanos.

Assim como o tigre, felino implacável, o Dr. Ullas Karanth luta com todas as suas forças pela educação ambiental de seus compatriotas e demais cidadãos do mundo inteiro. Além, é claro, de se envolver com pesquisas e políticas favoráveis a ações de preservação.

Daqui do Brasil, o nosso eterno obrigado, admiração e carinho por esse grande homem que, até hoje, não desiste de seu propósito, mesmo com tantos desafios.

Texto por Aléxia Ferraz,

Revisado por Jéssica Amaral Lara