Você conhece as grandes personalidades da conservação? Ao longo dos anos, pudemos contar com alguns heróis que deram início a grandes ideias ou tiveram papéis importantes em determinados projetos de proteção ao meio ambiente. Seus princípios e histórias de vida são uma inspiração para nós, que formamos uma enorme corrente a favor da natureza.
Vamos explorar a história desses gigantes aqui em nosso blog. A informação é nossa principal arma. Por meio dela, desejamos munir a população de conhecimento, inspirar cidadãos comuns e trazer o maior número de pessoas para o “lado verde da força”.
Hoje vamos conversar sobre Neca Marcovaldi, oceanógrafa e co-fundadora do Projeto Tamar. Uma mulher admirável, com uma história encantadora! Vem conhecê-la conosco!
Tudo pelo mar: de uma vida urbana a uma bem rural
Maria Ângela Marcovaldi, mais conhecida como Neca Marcovaldi, nasceu em 1958 na grande cidade de Porto Alegre. Lá ela não tinha contato com o mar, mas desde pequena ia para a praia com sua família e já sabia que o amava tanto, que um dia mudaria para uma cidade no litoral.
Essa admiração e vontade de estar perto do oceano, a fez cursar Oceanografia. Na época, esse curso só existia em uma faculdade em toda a América Latina, na Faculdade de Rio Grande (FURC). E assim, Neca mudou de cidade, de rotina, de amigos.
Sua nova casa, que mais lembrava um sítio, ficava em zona rural, a 30km da cidade mais próxima. Lá ela morava com outros estudantes e também com vários animais silvestres, que cuidavam para o Zoológico de Porto Alegre. Que baita mudança de vida!
Explorando a costa brasileira
Durante a graduação, Neca e seus amigos tinham uma enorme vontade de explorar o litoral brasileiro. E, muitas vezes, o Museu Oceanográfico financiava a busca de material malacológico (moluscos como ostras e caramujos) para seu acervo. Bom, foi juntando a fome com a vontade de comer, que a turma foi para vários pontos da costa buscar material para o Museu e claro, conhecer o litoral. Isso os permitiu conhecer ambientes como Fernando de Noronha, Abrolhos e Atol das Rocas.
Inclusive, foi em uma dessas expedições, para o Atol das Rocas, uma em que ela não havia participado, quando tinha acabado de entrar para o curso, que essa mesma turma viu um pescador capturando tartarugas-marinhas fêmeas que estavam indo para as praias desovar. Assustados, eles registraram tudo e tentaram salvá-las, conseguindo resgatar metade delas.
Na época, não havia relatos de tartarugas marinhas no Brasil, e logo, quando os estudantes contaram para seus professores o que tinham visto, mesmo com fotos, o fato pareceu piada! Mas eles não desistiram e relataram o caso também para o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) que mais tarde deu origem ao IBAMA. E que ótimo que contaram, pois o IBDF propôs, anos depois, que parte dos estudantes percorressem a costa, levantando informações sobre as tartarugas-marinhas e também, sobre os peixes-bois. E assim fizeram um milagre: de 1980 a 1982, o grupo de cerca de 4 estudantes, incluindo a Neca, percorreram do Rio de Janeiro ao Amapá basicamente a pé, levantando a distribuição desses animais e também suas ameaças.
Surgimento do Projeto TAMAR (e do Projeto Peixe-boi)
Ao conhecer melhor as ameaças que os animais enfrentavam, os 4 exploradores se dividiram, criando projetos sobre os grupos estudados, o Projeto Tamar, para conservação das tartarugas-marinhas, e o projeto para a conservação do peixe-boi (e que belo trabalho eles fazem até hoje!).
E foi com o início do Tamar, que ela mudou novamente de cidade: uma das primeiras iniciativas no projeto foi a criação de três bases, onde ocorriam ao menos duas espécies de tartarugas. Neca ficou com a base da Praia do Forte, na Bahia, mudando quase que para o outro lado do país. Inclusive, ela comenta que o choque cultural foi imenso.
Desde então, ela dedica sua vida ao Projeto Tamar. Foram muitas conquistas e claro, muita luta. Com muito esforço, Neca e sua equipe conseguiram colocar os pescadores, suas famílias, a comunidade local e hoje, o Brasil e o mundo inteiro ao seu lado na luta pela conservação das tartarugas marinhas. Neste vídeo, do canal do Projeto Tamar, e neste feito pelo Instituto Tamanduá, ela conta mais sobre as etapas do Projeto. Com um árduo trabalho eles conseguiram a admiração coletiva de todos nós e viraram uma referência na conservação da biodiversidade.
Até a pandemia, eram 1200 trabalhadores envolvidos no projeto, 80% deles, membros das comunidades, em 23 locais na costa brasileira. É de tirar o fôlego, né? E claro, digo até a pandemia, pois infelizmente o projeto também sentiu os impactos decorrentes do isolamento. Afinal, o turismo e consequente venda de produtos nas lojas físicas das bases é uma enorme fonte de renda ao Tamar. E é por isso que, caso você consiga, indicamos ajudar o projeto comprando na lojinha virtual.
Junto ao Tamar, outra história de vida: Guy Marcovaldi
Nessa missão de vida, Neca teve um companheiro fundamental, o seu marido Guy Marcovaldi, também fundador do Tamar.
Juntos desde a faculdade, Guy também dedicou sua vida às tartarugas marinhas. Com o estabelecimento do projeto, por vezes, enquanto Neca ficava na base da praia do Forte, Guy ficava em outras bases. Mas sempre davam um jeito de se encontrar.
O casal tem uma filha, Nina Marcovaldi, que atua na coordenação do projeto e comentários à parte, neste ano terá um bebê. Neca e Guy serão vovôs!
Caso queiram conhecer melhor a história do casal e do Tamar, Nina, como protagonista, junto à Jeep, fez uma série narrando a trajetória de seus pais, para assistir é só clicar aqui.
Um belo ser humano!
O trabalho de Neca rendeu, além de vários importantes prêmios, como o Heroes of the Planet, pela revista Times, uma inspiração enorme para a população no geral e para nós que trabalhamos na área. Ela tem com si, um aspecto chave para quem deseja ir longe: a perseverança. Como ela mesmo disse, em uma entrevista ao Museu da Pessoa:
“A primeira (lição que tirei da minha carreira) mesmo é perseverança. Eu entendo que a gente vive num país que tem muita dificuldade ainda e se não houver muita vontade de se fazer alguma coisa e tentar mudar automaticamente, não acontece. Então, eu continuo mesmo o Tamar maior, mesmo já tendo realizado uma boa parte do que eu gostaria, cada dia é um dia de batalha, de luta e continua tendo milhões de dificuldades, milhões de coisas boas, mas que a gente não pode parar de lutar, né?”
E é isso mesmo Neca, nunca podemos parar de lutar! Agradecemos infinitamente o seu trabalho, a sua dedicação, e a você ser assim, um belo ser humano, dotado de perseverança como é!
Texto por Jéssica Amaral Lara
Revisado por Gustavo Figueirôa