Pelo menos 640.000 toneladas de equipamentos de pesca são abandonados, perdidos ou descartados nos nossos oceanos a cada ano.
Esses materiais, denominados de petrechos fantasmas, acabam aprisionando e mutilando milhões de animais marinhos – incluindo espécies ameaçadas de baleias, focas, tartarugas, peixes e crustáceos. No Brasil, estima-se que até 69 mil animais marinhos sofram as consequências desse problema por dia. O fenômeno é conhecido como pesca fantasma e, na maioria dos casos, causa lacerações, infecções e danos que interferem no comportamento e na capacidade dos animais de evitar predadores ou leva à morte por afogamento, sufocamento ou estrangulamento.
“Além do sofrimento causado à fauna marinha e dos reflexos negativos à conservação das espécies, as redes de pesca abandonadas, que são feitas de material plástico, têm um alto impacto ambiental pela demora em sua decomposição, até 600 anos”, explica João Almeida, gerente de Vida Silvestre da Proteção Animal Mundial. “A estimativa é que 5 a 30% do declínio populacional de algumas espécies pode ser atribuído à pesca fantasma. Essa prática pode ser o principal fator para a redução drástica das populações de botos-cor-de-rosa e o tucuxis, na Amazônia”, afirma o gerente.
Esses resultados foram revelados pelo relatório Maré Fantasma – Situação atual, desafios e soluções para a pesca fantasma no Brasil ,da ONG Proteção Animal Mundial (World Animal Protection) em colaboração com ONU Meio Ambiente, Instituto Baleia Jubarte e WWF-Brasil. o lançamento ocorreu na última sexta-feira (7), em São Paulo, durante o evento Oceano Plástico: como escapar desse emaranhado?
O estudo também apontou que mais de 6 mil toneladas de redes de pesca são produzidas ou importadas por ano no Brasil e estimou que mais de meia tonelada (580 kg) desse material pode ser abandonado ou perdido nos mares brasileiros diariamente. Esses petrechos fantasmas são encontrados em 70% da costa brasileira (em 12 dos 17 estados), incluindo Áreas de Proteção Ambiental.
Um petrecho realiza pesca fantasma até se tornar inativo (por degradação, grande exposição ao sol, atrito, salinidade, etc), o que pode durar centenas ou até milhares de anos para ocorrer. Vale lembrar que mesmo após inativos, esses equipamentos continuam liberando componentes químicos no ambiente marinho, contaminando solos, água e organismos aquáticos.
Outro problema é que a pesca fantasma se torna cíclica, principalmente pela durabilidade dos petrechos. Linhas de nylon podem durar séculos no ambiente, tornando os petrechos fantasmas um elemento de alto risco para a fauna por muitos anos. Os animais presos podem atrair outros animais, especialmente os detritívoros (animais que se alimentam de restos orgânicos de origem vegetal ou animal). Estes animais também acabam ficando emaranhados nos petrechos, morrem e atraem mais indivíduos. Esse ciclo só se encerra quando o petrecho fantasma é retirado ou degradado.
Para reverter essa situação, a Proteção Animal Mundial promove a campanha Sea Change que visa chamar a atenção para a pesca fantasma e conscientizar o governo, o setor privado e a população para que medidas comecem a ser tomadas no Brasil. “Para implementar políticas eficazes contra a pesca fantasma é preciso saber onde há maior incidência desse impacto e quais espécies são mais prejudicadas. Por isso, esse estudo é tão importante”, afirma Helena Pavese, diretora executiva da Proteção Animal Mundial. “No Brasil o conhecimento sobre a pesca fantasma ainda é muito incipiente. São Paulo e Santa Catarina são os únicos estados que apresentam estudos consistentes”, completa a diretora.
A Proteção Animal Mundial atua contra a pesca fantasma por meio de três frentes: reduzir o descarte inadequado de redes de pesca; remover os petrechos e promover soluções inovadoras de reciclagem para os equipamentos; apoiar os esforços de resgates seguros de animais emaranhados.
Para ver o relatório divulgado na íntegra, acesse: https://www.worldanimalprotection.org.br/pescafantasma