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Entre outras mil és tu, Brasil, Ó Pátria Queimada. Será que este deveria se tornar o novo hino do Brasil? Com tantos incêndios acontecendo, em diferentes biomas, uma pergunta nos vem à mente: o que nós, seres humanos, estamos fazendo de errado? Como o meio ambiente está sendo tão impactado em um cenários de grandes incêndios? Reunimos neste texto o panorama dos últimos incêndios, no primeiro semestre de 2024, no Pantanal, Amazônia e Cerrado. 

Incêndios no Brasil 2024

O número 119.018 pode assustar. Esta é a quantidade de focos de incêndio até agosto de 2024. Um cenário preocupante que atinge o país em um ano extremamente complexo quando o assunto é fogo.

Quando consideramos o ano inteiro, os estados mais atingidos são Mato Grosso, Pará e Amazonas com o número de focos em  23665, 16639 e 14176 respectivamente. Quando o assunto são os municípios Corumbá (Mato Grosso Do Sul), Apuí (Amazonas), Lábrea, (Amazonas) e Novo Progresso (Pará). 

Se os números assustam, ver o mapa do Brasil tomado por “pontos” de incêndio, nos impressiona mais ainda.  No site Terra Brasilis é possível conferir os demais números e os painéis de monitoramento por mês. Este foi o do mês de julho. Confira os demais clicando aqui.

Incêndio na Amazônia

A situação das queimadas na Amazônia tem gerado crescente preocupação, com a região registrando um número recorde de focos de incêndio em 19 anos. 

Desde janeiro, mais de 63 mil focos foram identificados, superando os índices de 2014, para este mesmo período, e formando um denso “corredor de fumaça” que já afeta dez estados brasileiros. A combinação de incêndios na Amazônia, Pantanal, Rondônia e Bolívia está resultando em uma atmosfera cinza que se estende por várias regiões do Brasil.

Esse cenário alarmante é agravado pela seca extrema que afeta mais de mil municípios, intensificada pelo fenômeno El Niño e pelo aquecimento do Oceano Atlântico. A fumaça, que normalmente seria dispersa pela umidade da floresta, agora é transportada por ventos que carregam as partículas tóxicas por milhares de quilômetros.

Além disso, o governo federal, em cooperação com os estados da Amazônia Legal, planeja instalar frentes multiagências em áreas críticas para combater as queimadas e punir práticas ilegais, na tentativa de controlar essa crise ambiental sem precedentes.

Segundo o IPAM, o fogo na Amazônia é frequentemente utilizado para limpar pastagens, e essa prática precisa ser abandonada para conservar o bioma. Para informações atualizadas sobre a situação do fogo na Amazônia, consulte o Programa Queimadas do INPE.

O cenário é ainda mais preocupante quando consideramos os dados do MapBiomas: metade da área de vegetação nativa do Brasil perdida entre 1985 e 2023 está na Amazônia.

A situação das florestas públicas não destinadas é particularmente complexa. Essas áreas de florestas pertencem ao governo, mas ainda não foram oficialmente atribuídas a um uso específico, como unidades de conservação, terras indígenas, assentamentos ou concessões para manejo florestal. Dados do MapBiomas mostram que essas florestas ocupam 13% da Amazônia Legal e têm 92% de sua área coberta por vegetação nativa, equivalente a 60 milhões de hectares.

O problema é que, enquanto não forem destinadas, essas áreas permanecem sem um uso definido, tornando-as vulneráveis à ocupação irregular, desmatamento ilegal e outros tipos de exploração indevida.

Na divulgação da Coleção número 9 do MapBiomas, a iniciativa destaca um cenário preocupante:

“Na Amazônia, foram 55 milhões de hectares de vegetação nativa perdidos, o que representa uma redução de 14% nos últimos 39 anos. Atualmente, a Amazônia brasileira tem 81% de sua área coberta por florestas e vegetação nativa – o que a coloca muito próxima da margem estimada pelos cientistas para seu ponto de não retorno, estimado entre 80% e 75% de vegetação nativa.”

Extremamente preocupante, certo?

Acompanhe o instagram do IPAM para receber atualizações sobre a situação da Amazônia. 

Incêndio Pantanal

Em 2024, o Pantanal enfrenta uma devastadora crise de incêndios, com mais de 2 milhões de hectares destruídos, o que corresponde a aproximadamente 13,46% da área total do bioma. 

Os incêndios começaram precocemente neste ano, em maio, devido à prolongada estiagem e às mudanças climáticas, e já representam a pior temporada de fogo desde 1951. Infelizmente, a causa de vários incêndios são os humanos. 

A informação de que foram 2 milhões de hectares queimados é do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA-UFRJ). É possível consultar esta informação por meio do sistema ALARMES.

O Governo Federal, em colaboração com os governadores dos estados da Amazônia e do Pantanal, formou frentes multiagências para lidar com a crise. 

Essas frentes visam a atuação integrada e presencial para prevenir e combater os incêndios, contando com a participação de órgãos como Polícia Federal, IBAMA, Funai, e ICMBio. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou a necessidade de uma abordagem coordenada e preparada para lidar com a intensificação dos incêndios, que devem se tornar mais frequentes e severos. Confira o boletim do governo clicando aqui. 

A seca prolongada tem desempenhado um papel crucial na intensificação dos incêndios. Dados do MapBiomas revelam que o Pantanal tem enfrentado períodos de seca cada vez mais severos desde 2018. 

Em comparação com 1988, a última grande cheia, o Pantanal em 2018 foi 22% mais seco, e 2023 foi 38% mais seco que 2018. A perda de áreas alagadas é alarmante, caindo de 7 milhões de hectares em 1985 para 3,5 milhões de hectares em 2023. Esta redução dramática nas áreas alagadas têm implicações significativas na regulação hídrica e no ecossistema do Pantanal.

Infelizmente, os incêndios têm causado impactos devastadores na fauna do Pantanal. A situação dos animais resgatados destaca o sofrimento e a dificuldade de sobrevivência em um ambiente severamente afetado pelas chamas. Você pode acompanhar o trabalho do Onçafari nessas Estima-se que, em 2020, pelo menos 17 milhões de animais vertebrados tenham morrido devido aos incêndios.

Sabemos que a resposta coordenada entre diferentes níveis de governo e instituições é crucial para mitigar os danos e promover a recuperação do bioma. 

Incêndio no Cerrado

Em agosto de 2024, o Cerrado enfrenta uma crise significativa com um número alarmante de incêndios. Até o dia 20 de agosto, foram registrados mais de 31.000 focos de incêndio na região neste ano, segundo o INPE. 

Esse crescimento reflete uma intensificação na frequência e na severidade dos incêndios, trazendo preocupações sobre o bioma. A destruição extensiva compromete a biodiversidade e provoca a degradação do solo e dos recursos hídricos.

Os incêndios têm causado impactos severos no meio ambiente e nas comunidades locais. A perda de habitat afeta diversas espécies, incluindo algumas ameaçadas de extinção, como o lobo-guará e o tamanduá-bandeira. A qualidade do ar também está se deteriorando, com o aumento de partículas finas que podem prejudicar a saúde respiratória das populações locais. Além disso, afeta o abastecimento de água em algumas comunidades.

As autoridades e organizações ambientais estão intensificando os esforços para combater os incêndios. Equipes de brigadistas, o Corpo de Bombeiros e grupos de voluntários estão atuando para controlar e extinguir os focos de incêndio. Tecnologias de monitoramento, como imagens de satélite, estão sendo empregadas para mapear as áreas afetadas e coordenar as ações de resposta.

Os dados sobre desmatamento da Coleção 9 do Mapbiomas revelam um cenário que:

No caso do Matopiba, no Cerrado (região que reúne os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), todos os estados têm pelo menos um município com mais de 30% de perda de vegetação nativa entre 2008 e 2023. 

No Cerrado, 38 milhões de vegetação nativa foram suprimidos entre 1985 e 2023 – uma queda de 27%. Dez por cento do Cerrado (9,7 milhões de hectares) são cobertos por vegetação secundária. Proporcionalmente em relação ao próprio tamanho, Cerrado e Pampa são os biomas que mais perderam área de vegetação nativa. A agropecuária passou de 28% para 47% no Cerrado. Pesquisas recentes indicam que a expansão da agropecuária no Cerrado tem impacto direto na intensidade dos incêndios no Pantanal. O manejo inadequado do solo no Cerrado contribui para a erosão e o acúmulo de sedimentos nos rios, que acabam por reduzir a quantidade de água que chega ao Pantanal, criando condições mais secas e propícias para incêndios descontrolados.

E a solução dos incêndios? Em meio a uma das temporadas mais severas já registradas, produtores rurais do Mato Grosso tomaram medidas drásticas para combater as chamas que devastam a região há mais de um mês. Unindo esforços com as prefeituras locais e o governo estadual, contrataram aviões para lançar água sobre as áreas em chamas, mas a batalha contra o fogo continua. Confira a reportagem do G1 sobre.

Sabemos que somente através de uma abordagem integrada, que combine tecnologia, conhecimento tradicional e políticas públicas eficazes, será possível preservar o que resta desses ecossistemas tão vitais.

O que você, cidadão, pode fazer para contribuir? 

Já que não iremos atuar diretamente no fogo, o melhor a ser feito, e que sempre defendemos, é contribuir financeiramente para organizações que trabalham na prevenção e combate a incêndios ou que realizam atividades de reabilitação de áreas afetadas. Além disso, você pode ajudar de forma gratuita: apoiando estas instituições compartilhando seus posts em redes sociais e fazendo chegar mais longe. 

Separamos algumas delas para você conhecer. 

Instituições para ajudar na Amazônia

Instituto Socioambiental (ISA): O ISA atua na defesa dos direitos socioambientais e na proteção da Amazônia. Eles realizam projetos que incluem o combate ao desmatamento e incêndios, apoiando comunidades indígenas e tradicionais na preservação da floresta.

Greenpeace Brasil: O Greenpeace é conhecido por suas campanhas de proteção ambiental e defesa da Amazônia. Eles trabalham com monitoramento de incêndios e desmatamento, além de campanhas de conscientização e pressão política.

Instituições para ajudar no Pantanal

Grupo de Resposta a Animais em Desastres: está desempenhando um papel crucial no Pantanal Norte, focando no manejo da fauna e no resgate de animais afetados pela sede e pelas chamas. A campanha #TragamÁguaParaOPantanal destaca a grave escassez de água, levando à transferência de animais para áreas com mais recursos hídricos. Além disso, a equipe combate ativamente as chamas que ameaçam devastar a região.‌

Para doar:

Acesse o site ou doe via Pix: doe@gradbrasil.org.br

SOS Pantanal: Além de atuar no combate ao fogo com as Brigadas Pantaneiras, media esforços entre fazendeiros, exército e empresas parceiras. Um exemplo dessa colaboração foi o aceiro de quase 13 km, criado para isolar o fogo na região do Rio Negro. O SOS Pantanal apoia as operações, assegurando a continuidade das ações de combate e monitoramento. advocacy ambiental é crucial nesses momentos.

‌Acesse o site ou doe via Pix: contato@sospantanal.org.br

Instituições para ajudar no Cerrado

Rede Cerrado: A Rede Cerrado é uma coalizão de organizações e movimentos sociais que atuam na defesa do Cerrado. Eles trabalham na proteção dos direitos das comunidades tradicionais e no combate a incêndios e desmatamento no bioma.

Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ): O IPÊ desenvolve projetos de conservação da biodiversidade e manejo sustentável no Cerrado. Eles trabalham em ações de prevenção e combate a incêndios, além de promover a restauração ecológica em áreas degradadas.