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Você conhece as grandes personalidades da conservação? Ao longo dos anos, pudemos contar com alguns heróis que deram início a grandes ideias ou tiveram papéis importantes em determinados projetos de proteção ao meio ambiente. Seus princípios e histórias de vida são uma inspiração para nós, que formamos uma enorme corrente a favor da natureza.  

Vamos explorar a história desses gigantes aqui em nosso blog. A informação é nossa principal arma. Por meio dela, desejamos munir a população de conhecimento, inspirar cidadãos comuns e trazer o maior número de pessoas  para o “lado verde da força”.

Hoje iremos conversar sobre Tatiana Neves, bióloga e Mestre em Oceanografia Biológica, fundadora e coordenadora geral do Projeto Albatroz há 32 anos. Ou ainda: a mulher por trás da conservação de animais incríveis que dão a volta ao mundo, os albatrozes.

Quando descobriu o amor pelo mar?

Quem já conhece a Tatiana sabe que é impossível não associá-la ao mar, mas você saberia dizer quando essa paixão começou?

Foto: Projeto Albatroz

Em uma entrevista inédita com a GreenBond Conservation, essa bióloga e pessoa incrível nos contou que a sua história com o oceano se iniciou com poucos meses de vida, quando colocando os pequeninos pés na água da praia, descobriu o grande amor da sua vida. Mas assim como toda história de amor, a protagonista passaria por muitos episódios para que de fato, pudesse vivê-la para sempre.

Apesar de ter nascido em São Paulo, frequentemente visitava a casa dos avós que ficava na Praia Grande, em Santos. Já jovenzinha, se mudou para lá e desde então, acumula uma série de memórias fantásticas vividas na beira do mar, onde ela tinha a sensação de pertencimento.

Uma criança diferenciada…

Para começar, ela conta que na sua infância, as praias do litoral sul eram muito diferentes do que são hoje, o ambiente marinho era pouco ou nada urbanizado, o que permitia o contato e observação de uma biodiversidade encantadora. Às 5 horas da manhã, dentre todas as crianças, Tatiana era a única que acordava e ansiava por acompanhar o pai e o avô na pesca esportiva. Com enormes suspiros de emoção, ela nos conta o quão gostoso eram essas saídas em família que se iniciava com a captura de pequenos peixes em riachos para usarem como iscas vivas para peixes maiores.

A diversão não acabava por aí… ao chegarem do passeio, aquela menina pequenina corria atrás do avô e se debruçava sobre o tanque para assisti-lo abrindo e limpando o estômago dos peixes e retirando os parasitas. Longe de sentir nojo ou até mesmo medo, ela se encantava por já ter uma consciência de que aqueles organismos se tratavam, na verdade, de vidas minúsculas. Hoje, entende que esses pequenos momentos foram a sua primeira grande experiência como futura bióloga que viria a ser. 

Amor não só pelo mar, mas por todas as formas de vida

Nas caminhadas pela praia com a sua irmã, acabou conhecendo a rotina de grandes barcos pesqueiros. Por isso, no menor sinal de uma multidão, corriam para ajudar aqueles trabalhadores a tirarem a rede de arrasto do mar.

A destemida Tatiana. Foto: Tatiana Neves/ Instagram.

Faziam isso com toda pressa do mundo, pois queriam logo chegar ao fundo dessa rede e desemaranhar com segurança as pequenas estrelas-do-mar, siris e tantos outros animais que haviam sido capturados incidentalmente e que seriam descartados pelos pescadores porque não tinham nenhum interesse comercial. Quando tiravam,  jogavam-nos rapidamente de volta ao mar na esperança de que sobrevivessem.

Apesar de toda essa clareza, será que a escolha do curso sempre foi uma certeza?

Como vocês viram no decorrer da história, Tatiana sempre soube que queria fazer biologia, pois sentia que já tinha nascido bióloga. Mas como qualquer outro jovem que está passando pela fase de vestibular, começaram a aparecer em seus pensamentos, estalos de incerteza. Por isso, ao chegar o momento de se inscrever nos cursos e na faculdade, escolheu várias outras áreas além daquela que lhe era óbvia: nutrição, educação física, medicina e farmácia.

Como uma aluna e pessoa determinada que sempre foi, dentre as aprovações, estava a tão sonhada carreira de médica. Esse, pode até ser o sonho de muitos, mas não o de Tatiana. Ela seguiu em direção ao seu coração, à sua infância, a sua grande paixão: a biologia! Como o seu grande desejo era o ambiente marinho, abriu mão de faculdades federais para estudar naquela que na época, mais se aproximava da Biologia Marinha, a Universidade de Santa Úrsula no Rio de Janeiro.

Quem nunca entrou em um curso e se perdeu com um mundo de oportunidades?

Para quem imaginou que Tatiana, depois disso, iniciou a sua carreira como bióloga marinha, se enganou! Durante os anos da graduação, conheceu o universo amplo que é o “estudo da vida” e acabou tomando gosto pela bioquímica e inclusive, pouco tempo antes da sua formação, estava com um mestrado encaminhado sobre isso.

Tatiana ainda viria a descobrir o motivo pelo qual doaria a sua vida. Foto: Projeto Albatroz.

Mas mais uma vez, assim como em muitos outros momentos da sua vida, o mar lhe chamou!

O reencontro final com o oceano!

Uma reviravolta em sua vida a obrigou a deixar a Cidade Maravilhosa e voltar para Santos. Uma volta nada fácil. Afinal, ela trabalhava em São Paulo e estudava no litoral.  Entre as idas e vindas da vida, frequentou uma escola de mergulho e lá, em Santos, começou a trabalhar. Esse emprego lhe permitia mergulhar frequentemente lugares como a Laje de Santos e vários outros pontos importantes do litoral paulista. Dessa forma, conhecia quase que de cabo a rabo a biodiversidade daquele lugar incrível.

Logo, ela mudou de emprego. Passou a integrar a equipe da Secretaria do Meio Ambiente. Lá Tatiana convenceu o diretor da Divisão de Reservas e Parques Nacionais que a Laje de Santos precisava de uma Unidade de Conservação. E através da sua proposta, hoje, esse parque foi o primeiro e único Parque Estadual Marinho do Estado de São Paulo.

“A menina das aves”

Entre um mergulho e outro, entre as visitas às ilhas, em especial, a de Alcatrazes, Tatiana conheceu a diversidade das aves marinhas e o resultado não podia ser outro: encantou-se!

O gosto por esses animais era tanto que, no meio acadêmico e por onde passava, era conhecida como “a menina das aves”. Essa sua fama levou um dos pesquisadores a entrar em contato com ela para pedir ajuda na identificação de algumas aves vítimas da pesca incidental por barcos de pesca de atum. Consegue adivinhar quem eram essas aves?

Conhecendo os albatrozes

As aves vítimas da pesca por espinhel eram os albatrozes e os petréis. Na entrevista, Tatiana descreveu o seu primeiro contato de forma muito profunda e verdadeira: como animais tão grandes, belos e incríveis, capazes de dar a volta ao mundo, pudessem ser vítimas das iscas e anzóis dos nossos barcos de pesca.

Esses pensamentos a perturbavam e ela não conseguia admitir que isso pudesse acontecer aqui! Esse fato a sensibilizou de tal forma que, a partir de então, dedicaria o resto de sua vida em prol do que hoje conhecemos como Projeto Albatroz. 

Tatiana depois de muitos anos, conhecendo uma colônia de albatrozes em Galápagos.. Foto: Tatiana Neves/ Instagram.

Mas como uma jovem estudante poderia mudar o futuro dessas espécies?

Tatiana conta que o Projeto Tamar e o Projeto Baleia Jubarte foram as suas grandes e verdadeiras inspirações. Com o sentimento sonhador de uma pessoa jovem, ela colocou na cabeça que não deixaria nada e nem ninguém freá-la até que conseguisse escrever um projeto como esses para os albatrozes. E, quem sabe, assim como eles, conquistar o requisitado patrocínio da Petrobras. 

Para quem gosta de spoiler: isso aconteceu depois de seis anos da fundação do projeto!

O início do Projeto Albatroz

Começar um projeto no Brasil nunca foi fácil, por isso, essa história não poderia ser diferente. Tatiana levantou duas principais dificuldades encontradas durante o seu caminho: desconstruir o ambiente prioritariamente masculino que frequentava e impor respeito ao seu trabalho e a si mesma e claro, a falta de recursos.

Tanto o ambiente acadêmico quanto os barcos pesqueiros eram frequentados por homens. Conta que, muitas vezes, reparava em olhares questionadores e julgadores. Mas como uma mulher determinada como sempre foi, comprou mais uma briga pela sociedade: o direito das mulheres de habitarem esses locais. Com muito orgulho, conta que foi uma de suas maiores conquistas!

O sorriso de quem venceu muitas barreiras. Foto: Tatiana Neves/ Instagram.

Agora, sobre a barreira financeira, desabafou que foi um momento muito difícil. A falta de remuneração a levou a trabalhar com outras coisas e, ao mesmo tempo, tocar o programa de conservação, o que não foi uma conciliação fácil devido às altas demandas. Mas como desistir nunca foi uma opção, logo vieram apoios internacionais e depois, nacionais, como a Fundação Boticário e como vocês já viram, a Petrobras.

E onde está a Tatiana hoje?

Ainda hoje, Tatiana é a coordenadora geral do projeto, responsável pela gestão e administração de toda a equipe que compõe todas as 7 bases da organização em 6 estados diferentes: Santos (SP), Itajaí e Florianópolis (SC), Itaipava (ES), Rio Grande (RS), Natal (RN) e Cabo Frio (RJ). Ela não deixa de dizer o quão grata se sente por todas as pessoas que trabalharam na escrita dessa história e que diariamente, acredita e deseja os mesmos sonhos que o dela.

 

Texto por Aléxia Ferraz

Revisado por Jéssica Amaral Lara