Skip to main content

Cada bioma possui sua importância biológica, social e ambiental, por isso, todos apresentam uma data especial, para assim, aumentar ainda mais a visibilidade à eles, ressaltando sua relevância e conscientizando sobre seu estado de conservação. 

Por isso, começa hoje, nossa série Biomas do Brasil, em que iremos te contar mais detalhadamente sobre cada um dos grandes ecossistemas brasileiros. Hoje, é comemorado o Dia Nacional do Pampa (17/12), um bioma pouco conhecido, e que hoje será apresentado para vocês, dando início a nossa série.

Ficou curioso e quer conhecer mais sobre o Pampa? Continue por aqui, pois vamos te contar suas características, biodiversidade e quais são as principais ameaças sofridas pelo bioma. 

 

O Pampa e suas Características

 

O bioma ocupa os territórios da Argentina, Uruguai e Brasil, com mais de 700 mil km² de extensão. Em nosso país, está localizado somente no Rio Grande do Sul, abrangendo 63% do território do Estado, com o total de 176 mil km². 

 

Localização do Pampa / Foto: Fapesp.

 

Sua vegetação é campestre, ou seja, formada por diversas gramíneas. De acordo com estimativas, existem cerca de 3.000 espécies de plantas, das quais 450 são gramíneas, 150 leguminosas, 100 tipos de árvores e 70 espécies de cactos. 

As áreas campestres compõem formações específicas de fitofisionomias (característica da vegetação da região) que vão levar a composições específicas do solo, da cobertura vegetal, sendo esta, majoritariamente arbustiva e herbácea, enquanto a arbórea é mais comum nas encostas e em percursos de rio, e também seu relevo de planície com ondulações. 

Além disso, há outras características geográficas que englobam esses campos nativos, como matas ciliares, florestas de encostas, campos de palmeiras-anãs, áreas úmidas e afloramentos rochosos.

 

 

Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos (Pampa) / Foto: Internet.

 

Existem duas bacias hidrográficas que banham o território, são elas: a bacia hidrográfica Costeira do Sul e a bacia hidrográfica do Rio da Prata.

O que se tem na imaginação das pessoas é que o bioma é somente um imenso campo com gramas, porém podemos observar que sua diversidade ao mesmo tempo que é grandiosa também é extremamente carente em termos de conservação. 

O Pampa é considerado um campo temperado e só foi ser reconhecido como bioma em 2004, até então era associado aos campos da Mata Atlântica, devido a isso, poucos estudos foram realizados sobre o local. Apesar de pouco popular, o bioma é considerado um patrimônio natural, cultural e genético.

 

Parque Natural Municipal da Pedra do Segredo (Pampa) / Foto: Site Viagens e Caminhos.

 

Uma curiosidade interessante, é que no pampa foram encontrados diversos fósseis de megafauna (animais de grande porte e, atualmente, extintos), como por exemplo, fósseis de preguiças gigantes primitivas (Lestodon spp.). Também foram encontrados túneis semelhantes aos dos tatus gigantes (Xenartro dasipodídeos) e fósseis de equinos ancestrais (semelhantes aos cavalos e burros atuais) que pastavam pelo local.

O pampa se desenvolveu muito provavelmente junto a estes herbívoros (pastadores) pré-históricos

 

Biodiversidade 

 

O local abriga uma enorme biodiversidade, com mais de 476 espécies de aves, 102 de mamíferos, 97 de répteis, 50 de anfíbios e 50 de peixes. Infelizmente, 49 dessas espécies estão ameaçadas de extinção.

 

Flamingos-chilenos são encontrados durante a migração no Pampa brasileiro / Foto: Renato Rizzaro.

 

Aves como, cardeais-amarelos (Gubernatrix cristata), noivinha-de-rabo-preto (Heteroxolmis dominicanus), o príncipe (Pyrocephalus rubinus), assim como corujas, beija-flores e muitos outros.

 

Cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata) / Foto: Renato Rizzaro.

 

Algumas das espécies de mamíferos que são encontradas por lá, são o gato palheiro (Leopardus braccatus), espécie não avaliada pela IUCN, graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), que está quase extinto no bioma, bugio-preto (Alouatta caraya), que se encontra vulnerável, e muitos outros.

 

Graxaim-do-Campo / Foto: UFRGS.

 

É muito importante compreender que cada local possui sua biodiversidade, onde cada organismo auxilia na manutenção do ecossistema e ajuda a manter o ambiente saudável, o que é essencial para nós e os demais animais que ocorrem por lá. 

 

Sapinho de barriga vermelha  (Melanophryniscus admirabilis) / Foto: UFRGS.

 

Quanto mais pesquisas forem realizadas, mais informações sobre o Pampa estarão disponíveis, e portanto conheceremos mais sobre o bioma. Com isso, será possível traçar melhores estratégias de preservação de sua fauna e flora e, assim, contribuir para minimizar os impactos causados pelos seres humanos.

 

Histórico e Ameaças do Bioma

 

Quando os europeus invadiram o Brasil na época da colonização, destruíram, e muito, a biodiversidade local, pois introduziram espécies de plantas e animais exóticos que afetam o funcionamento das relações ecológicas, pois pode haver competição com as espécies locais. Além desse problema, os colonizadores também promoveram outros impactos que se estendendo ao longo dos anos. 

Com o Pampa não foi diferente, principalmente pelo fato de ser extremamente acessível e favorável ao estabelecimento humano. 

Com o passar do tempo conseguimos observar sua devastação. Atualmente, somente 39% da vegetação do pampa é nativa, além disso, entre os anos de 1970 até 2005 estima-se que 4,7 milhões de hectares de campos naturais e nativos foram destruídos para o aumento das terras agrícolas, sendo utilizados para preparar o terreno e plantio de árvores exóticas.

 

A perda de pastagens nativas de Pampa para a agricultura de grande escala e pastos plantados / Foto: Map Biomas.

 

Pesquisas recentes realizadas pela Map Biomas demonstram que houve a perda de 16,3% de vegetações nativas quando comparadas ao ano 2000 e mais de 8,5 milhões de hectares de campos nativos foram desmatados entre 2000 e 2019. 

Grandes preocupações cercam o bioma, especialmente a expansão de áreas para  plantio de árvores exóticas (pinheiros, eucaliptos e acácia). Essas áreas são conhecidas por desertos verdes, ou seja, monoculturas de árvores que serão utilizadas na produção de celulose que causam impactos ambientais negativos.

 

Desertos verdes no Pampa / Foto: Eco4u.

 

As plantas nativas de lá são heliófitas, onde as plantações de árvores altas criam sombras que afetam a vegetação nativa. 

As culturas de árvores exóticas alteram o fluxo das águas e levantamentos atuais constataram que houve uma diminuição 52% deste fluxo, além do aumento da seca em 13% dos rios e córregos. 

Com a redução da disponibilidade de água, a fauna também irá se dispersar ou desaparecer, o que pode provocar alteração em toda a cadeia alimentar. Existem cerca de 250 espécies ameaçadas de extinção no Pampa do Rio Grande do Sul e 26 dessas espécies estão em perigo por conta destas plantações.

 

Gato palheiro é uma das espécies ameaçadas pelos desertos verdes / Foto: Adriano Gambarini.

 

Por ter sido reconhecido há tão pouco tempo como bioma, as áreas protegidas são muito escassas, existindo somente 6.494 hectares de proteção, representando 3,6% da área total.

Devido a todo este histórico, atualmente, se tornou um dos locais mais ameaçados e mais alterados pelo ser humano. 

Ainda há muito o que fazer por esse bioma. Preservar é necessário, pois sua importância é única!

 

Texto por: Giovanna Leite Batistão

Revisado por: Juliana Cuoco Badari