Cada bioma possui características únicas que os tornam tão especiais. Entre elas, a sua flora: cada espécie de planta é capaz de atrair animais diferentes e exercer diferentes funções ecológicas no ambiente em que se encontram.
Em homenagem ao Dia do Cerrado (11/09), trouxemos 3 espécies de plantas típicas do bioma e mostramos o quão única elas são para o ambiente, para nós e para a fauna! Claro, também contamos o motivo da flora do Cerrado ser tão importante para todo o país e mostramos algumas formas de ajudá-la a prosperar, confere só!
Antes de tudo, nosso amado Cerrado!
Segundo maior bioma do Brasil, o Cerrado conta com cerca de 2 milhões km².
Nesta vasta área estão distribuídas inúmeras nascentes, com muitos rios que contribuem com grandes bacias brasileiras, tornando o bioma a caixa d’água do Brasil. Claro, toda essa água também contribui para essa savana ser a mais biodiversa do mundo e abrigar cerca de 5% de toda a fauna mundial e ⅓ da fauna brasileira!
Falando nessa riqueza de vida, são mais de 800 espécies de aves, cerca de 200 de mamíferos, 180 de répteis, 210 de anfíbios, 1200 de peixes e inacreditáveis 90.000 espécies de insetos. Uau!
Bom, mas por trás de tanta água e riqueza de vida, há um ponto primordial: no Cerrado há mais de 12 mil espécies de plantas, com mais de 4 mil delas exclusivas do bioma – é a savana mais biodiversa, lembra?
Então, as raízes de muitas dessas plantas encontradas no bioma são especialmente desenvolvidas e profundas (conhecidas, inclusive, como florestas invertidas), assim, atuam como esponjas e conseguem recarregar os aquíferos. Não é à toa que o Cerrado é a caixa d’água do Brasil. Elas ainda armazenam uma quantidade enorme de carbono, contribuindo para o controle climático!
A flora tem um ENORME papel e é por isso que não poderíamos deixar de falar dela neste dia especial, continue acompanhando.
Cagaiteira
Vamos começar por uma árvore famosa pelo poder de seus frutos: a cagaiteira! É nativa do Cerrado, seus frutos, chamados cagaitas, têm ação laxativa. Além do nome popular remeter a esse fato, seu nome científico não fica para trás: Eugenia dysenterica – ou seja, que causa disenteria.
Voltando ao assunto, as cagaiteiras podem chegar a 10 metros de altura. A floração ocorre entre julho e setembro, em uma verdadeira explosão de flores brancas, onde abelhas (em geral, as mamangavas) vão polinizar. Algumas aves, por outro lado, aproveitam para alimentar-se das flores. A magia acaba de começar!
Um mês depois, vários frutos amarelos são gerados e adivinha quem se interessa por eles (além de muitos humanos)? Os primatas: vários saguis e outros macacos, pássaros e vários pequenos animais aparecem para se deliciar e saem dispersando as sementes. Os frutos chamam tanta atenção que a dispersão é basicamente por conta dos animais.
Os benefícios não param por aí. Centenas de famílias não só usam a cagaiteira como fonte de alimento, como também, fonte de sustento, fazendo o agroextrativismo da mesma. As folhas e cascas da árvore, assim como os frutos, também são utilizadas para fins medicinais: de forma oposta aos frutos, as folhas têm ação antidiarreica.
Buritizeiro
Embora também ocorra em outros biomas, os buritizeiros (Mauritia flexuosa) estão associados às veredas, um tipo de formação do Cerrado importantíssimo para a fauna, onde há disponibilidade de alimento, como os buritis e água, sendo considerados típicos do bioma.
Essa grande palmeira de ambientes encharcados, atinge até 40m de altura. A sua floração no bioma ocorre entre novembro e abril, atraindo abelhas, moscas e pequenos besouros para polinização, mas também, alguns amantes das flores: como os jacus.
A formação dos frutos leva meses e quando prontos, uma explosão de animais vem para consumi-los. Diversos tipos de aves aparecem, como os psitacídeos e mamíferos, como antas, queixadas, macacos, veados. E, os que não consomem os frutos, ficam à espreita para capturar os que vão lá comer.
Como se não bastasse tamanha importância, os buritizeiros também são utilizados como ninho, inclusive de araras.
Há também uma grande importância cultural, social e econômica: todas as partes do buriti podem ser utilizadas para diversos fins.
Jatobá
Os jatobás (Hymenaea stigonocarpa) são árvores da família Fabaceae, conhecidas como leguminosas, por terem frutos em formatos de vagens e mais do que isso, apresentarem uma importante função – a de fixação do nitrogênio no solo.
Elas tornam o solo mais fértil, realizando uma “adubação natural”, que melhora a qualidade do ambiente onde vivem. Plantas como essa, ainda mais quando atraem significativamente a fauna, como ocorre com os jatobás, são chaves para a restauração de ecossistemas.
Com até 15 metros de altura, a floração do jatobá ocorre entre novembro a abril: as flores são visitadas por abelhas, beija-flores e morcegos. Quase um ano após a floração, os frutos amadurecem. As sementes são consumidas desde os menores aos maiores animais – desde besouros a mamíferos: cutia, paca, anta, veado, porco-do-mato…
A árvore também é utilizada para diversos fins, desde artesanatos a produção de medicamentos relacionados a cicatrização de feridas, para melhora de infecções diversas e até mesmo em fraturas ósseas e câncer.
Poderíamos delongar aqui e também falar de outras espécies símbolos como o araticum, mangaba, pequi, entre tantas outras do Cerrado. Mas com essas três, acreditamos que você já conseguiu sentir um gostinho das infinitas relações ecológicas que há ali!
Essa biodiversidade está morrendo…
Infelizmente, estima-se que menos de 20% do bioma ainda está preservado. Grandes ameaças como monocultura e pecuária, sem contar no crescimento dos limites urbanos, extração mineral, caça ilegal, fogo não natural, entre tantas outras, aflingem cada vez mais o Cerrado.
É aí que esse texto fica ainda mais interessante: conhecer o bioma e sua biodiversidade é o primeiro passo para ajudarmos em sua conservação!
Quer ajudar? Plante árvores nativas!
Há várias maneiras de ajudar na conservação do bioma. Em homenagem ao texto de hoje, ressaltamos aqui, duas delas.
Plante árvores nativas do bioma em que você mora, em seu jardim/sítio e onde mais puder!
Além de todos os benefícios que a própria planta traz para o solo e o ambiente, você ainda irá ganhar um espetáculo de vida no local onde plantar, afinal, muitos animais silvestres também irão se beneficiar.
Para conseguir mudas, recomendamos que entre em contato com o órgão ambiental do seu estado e pergunte se eles possuem viveiros de mudas. Em Minas Gerais, por exemplo, o órgão ambiental estadual é o Instituto Estadual de Florestas, que conta com vários viveiros de mudas nativas espalhados pelo estado. Eles incentivam o reflorestamento e fazem doações. Claro, também há floriculturas que trabalham com espécies nativas, onde você pode comprá-las!
Por fim, compartilhe esse conteúdo e ajude-nos a conscientizar cada vez mais pessoas!
Texto por: Jéssica Amaral Lara
Revisado por: Giovanna Leite