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Você conhece as grandes personalidades da conservação? Ao longo dos anos, pudemos contar com alguns heróis que deram início a grandes ideias ou tiveram papéis importantes em determinados projetos de proteção ao meio ambiente. Seus princípios e histórias de vida são uma inspiração para nós, que formamos uma enorme corrente a favor da natureza.  

Vamos explorar a história desses gigantes aqui em nosso blog. A informação é nossa principal arma. Por meio dela, desejamos munir a população de conhecimento, inspirar cidadãos comuns e trazer o maior número de pessoas  para o “lado verde da força”.

Hoje iremos conversar sobre Arnaud Léonard Jean Desbiez, um zoólogo PhD em Manejo de Biodiversidade pelo Instituto de Conservação e Ecologia de Durnell (DICE), Universidade de Kent, UK. Ou ainda: o homem por trás de um dos maiores projetos de conservação do Brasil, o Programa de Conservação do Tatu-Canastra.

Arnauld é um conservacionista associada à RZSS desde 2007. Foto: RZSS Conservation

Se você leu esse nome e estranhou a escrita, você está no caminho certo: Arnaud não é brasileiro! Na verdade, ele é parisiense. Que chique, não? Apesar de ter nascido na França, ele relata que frequentemente se mudava junto a sua família para Nova York , e por isso, tem o francês e o inglês como língua nativa.

A primeira escolha: a sua paixão!

Independente do lugar em que estava, ele não consegue se lembrar de querer outra coisa na vida a não ser trabalhar com animais. E foi assim que, em 1995, decidiu-se pela graduação de Zoologia na McGill University no Canadá, sendo esse o seu primeiro grande passo para a vida de renomado biólogo conservacionista. 

Iniciou a sua vida de zoólogo trabalhando como tratador de zoológico, mas após alguns anos, sentiu pulsar em seu coração uma imensa vontade de trabalhar com animais livres na própria natureza, “o que me levou a embarcar em uma jornada que me levou por seis diferentes países para trabalhar com uma diversidade de espécies, comunidades e crenças.” 

Depois de ter feito paradas em países como Argentina, Belize e Nepal, em 2002, aos 28 anos, chegou ao Mato Grosso do Sul do Brasil, onde reside há mais de 20 anos. E, claro, onde tem feito muita história em prol da conservação.

Os tatus-canastra fazem tocas de até 6 metros de profundidade em cerca de 20 a 30 minutos. Foto: WFN

Depois de peregrinar tanto por esse mundo, você sabe o que fez Arnaud se instalar por aqui? O Tatu-Canastra!

Aliás, você já ouviu falar sobre esse animal? Se sim, pode ter certeza que foi por causa do trabalho árduo dele e sua equipe.

Início do projeto

Em 2010, o Dr. Arnaud Desbiez deu início ao Projeto de Conservação do Tatu-Canastra – núcleo financiado pela Royal Zoological Society of Scotland (RZSS) – estabelecendo um estudo pioneiro de longo prazo sobre a ecologia e biologia da espécie, além de buscar compreender a sua função ecológica.

Mas quem é o Tatu-Canastra?

Arnaud gosta de chamá-lo de “fóssil vivo”,  pois são cobertos por uma armadura dura e robusta como uma canastra – daqui vem o nome – e são enormes, medindo cerca de 1,5 m da ponta do nariz até a ponta da cauda, além de pesarem, em média, 50 kg. Uma característica que o intriga ainda mais, é o comprimento de sua garra, que pode chegar a até 15 cm, maior do que as garras de um urso!

Apesar de seu corpo e tamanho impressionantes e sua ampla distribuição pela América do Sul, é muito difícil encontrar esse animal andando por aí, pois ele possui o hábito de se manter entocado durante o dia em buracos de até 6 metros de profundidade, saindo apenas durante a noite.

Quando capturam um indivíduo, estudam sua saúde do animal e o monitoram por cerca de 2 anos. Foto: ICAS

Antes do início do projeto, o tatu-canastra era um animal completamente desconhecido, ” […] nem o dono da fazenda onde funciona nossa base, que nasceu e foi criado aqui, tinha visto um desses animais antes de iniciarmos o projeto.”

Esse desconhecimento da espécie foi um motivo especial para que ele e a equipe se determinassem a trabalhar incansavelmente para revelar os mistérios desse animal. Para isso, equipamentos de transmissão de rádio, armadilhas fotográficas, levantamentos de tocas, monitoramento de recursos, mapeamento de recursos e entrevistas com a população local foram imprescindíveis para o surgimento dos primeiros resultados. 

O empenho e determinação de Arnauld possibilitaram o conhecimento da importância ecológica da espécie, revelando-se como engenheira do ecossistema, uma vez que quando abandona as suas tocas, elas servem de abrigo e refúgio para outras 30 espécies. 

Arnaud trabalhou junto com os cineastas para capturar boas imagens para seu documentário. Foto: WFN

A emoção de sonhar junto com colaboradores

Falando em resultados iniciais, Arnaud tem um carinho especial pela instituição do Chester Zoo, pois ela foi um dos primeiros zoológicos a apoiar o projeto quando ele era apenas um sonho, quando a equipe nem tinha certeza que seria capaz de encontrar o animal. Esse financiamento foi importantíssimo para que se desenvolvessem e alcançassem resultados tão prósperos hoje. 

Um desses resultados visíveis é o reconhecimento da espécie Tatu-canastra como uma das 5 espécies indicadoras para a criação de áreas protegidas. O que significa que, após 5 anos do início do projeto, uma espécie até então misteriosa, passou a defender medidas de conservação de habitat. Incrível, não é?

O sorriso de quem ama o que faz! Foto: Cincinnati Zoo

Indo muito mais além…

Frente aos incríveis resultados obtidos na descrição da espécie de tatu, Dr. Arnaud e sua equipe voltaram a atenção para uma outra espécie icônica e muito ameaçada: o tamanduá-bandeira, lançando a iniciativa “Bandeiras e Rodovias”. Esse projeto visa a avaliação do impacto das estradas do Cerrado nas populações dessa espécie, esperando que o acompanhamento da espécie e futuros resultados forneçam informações importantes para uma reformulação das estratégias de gerenciamento de estradas no Brasil. Mais uma vez, é ele quem se encontra responsável pela coordenação geral desse programa de conservação.

Do Tatu-Canastra ao Bandeira! Foto: National Geographic

Fundação do ICAS

Para dar suporte administrativo a esses dois projetos que coordena, Arnauld fundou, em 2018, a ONG ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres. Diante da seriedade e reconhecimento dos projetos coordenados por esse homem, essa instituição já conta com o apoio de 40 zoológicos e aquários do mundo todo!

Reconhecimento mundial

Em 2015, ele foi reconhecido como um grande nome da conservação mundial, sendo premiado com o Whitley Award –  um Oscar da conservação – pelas mãos da princesa Anne da Inglaterra, em cerimônia na Royal Geographical Society, em Londres. Mas não para por aí, porque além disso, seu trabalho foi apresentado na National Geographic, BBC Nature e recentemente, ganhou espaço em um documentário de 60 minutos na PBS.

Princesa Anne da Inglaterra entregando o Whitley Award para Arnaud. Foto: Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)

Fala sério… que história impressionante e inspiradora! O nosso muito obrigado por tamanho empenho e dedicação na conservação de nossos animais simpáticos. Sabemos que, com certeza, houve muitos desafios, mas a sua perseverança ganhou uma visibilidade internacional e o nosso eterno carinho.

 

Texto por Aléxia Ferraz

Revisado por Jéssica Amaral Lara