Você conhece as grandes personalidades da conservação? Ao longo dos anos, pudemos contar com alguns heróis que deram início a grandes ideias ou tiveram papéis importantes em determinados projetos de proteção ao meio ambiente. Seus princípios e histórias de vida são uma inspiração para nós, que formamos uma enorme corrente a favor da natureza.
A partir de hoje, vamos explorar com mais frequência a história desses gigantes aqui em nosso blog. A informação é nossa principal arma. Por meio dela, desejamos munir a população de conhecimento, inspirar cidadãos comuns e trazer o maior número de pessoas para o “lado verde da força”.
Existe forma melhor de começar esse projeto, senão contando a história do pai da Biologia de Conservação? O americano Michael Soulé foi um “nerd” apaixonado por plantas e animais, que teve papel ativo na religião budista, além de ter sido um brilhante cientista. Nossas ideias e estratégias para a proteção da natureza devem muito a este homem!
Quem foi Michael Soulé?
Nascido em San Diego, na Califórnia, o pequeno Michael Soulé (ainda garoto) já vivia cercado de natureza. A vida na cidade lhe permitia andar por entre os canyons preservados nos arredores de sua cidade e ainda observar pequenos animais marinhos no litoral. Já demonstrando uma certa afeição pela vida selvagem, o menino criava cobras em sua própria casa, supervisionado pelos pais.
Mais tarde, a escolha pelo curso de biologia na graduação foi quase que natural, surpreendendo um total de 0 pessoas, rs. Durante os estudos, descobriu-se um biólogo acima da média. Tamanho brilhantismo ou levou ao PhD em uma das melhores universidades do mundo: a Stanford University. Seu orientador foi ninguém menos que Paul Ehrlich, grande ecólogo daquela geração.
Após muito estudo e pesquisas científicas, Soulé consagrou-se como professor de universidade. Na verdade, foi mais do que professor, o americano ganhou o título de tenure: uma posição rara e concedida apenas a profissionais de extremo brilhantismo. Na mesma época – meados dos anos 70 – Michael começou, sem grandes ambições, uma síntese de ideias que resultaria na essência da Biologia de Conservação.
União entre budismo e ciência
Com grandes posições profissionais vêm grandes responsabilidades. O prodígio da biologia não vivia apenas de seu amor pela natureza, precisava enfrentar o estresse e a alta competitividade do ambiente acadêmico. Os “poréns” de sua ascensão foram pesados demais para o conservacionista, que decidiu abandonar a carreira de tenure. Neste momento, Soulé encontrou o budismo e mergulhou fundo nos valores disseminados pela crença religiosa.
Ao contrário do que se pode pensar, a mudança na vida de Michael não foi tão radical. Ele não trocou o ritmo frenético da ciência pela calmaria da meditação. Mas, como parte de seu brilhantismo, conseguiu unir as duas paixões: ao passo em que coordenava um núcleo de estudos sobre o Budismo em Los Angeles, o biólogo continuou contribuindo com a geração de conhecimento científico, trabalhando, inclusive, na publicação de dois dos seus primeiros livros sobre Biologia da Conservação.
Uma vida dedicada à conservação
Após alguns anos, Soulé encerrou seu ciclo no centro de estudos budista e voltou a dedicar-se inteiramente à ciência. Para sorte nossa e do planeta, o biólogo dedicou sua vida inteira à ecologia, gerando estudos e descobertas científicas importantíssimas para a conservação.
Dentre suas muitas contribuições para fins acadêmicos, podemos citar a participação na criação da Análise de Viabilidade de Populações (AVP) – metodologia que ajuda a estimar a probabilidade de extinção de uma população num prazo determinado no futuro, com base nos parâmetros demográficos e genéticos daquela própria população. Também atuou na elaboração do conceito de Rewilding – restauração de processos ecológicos em grande escala, de modo a devolver áreas a um estado mais próximo do seu estado natural.
Michael Soulé sempre defendeu a teoria de que a biodiversidade deveria ser o objetivo primário da conservação. Ele era o verdadeiro amante da natureza e, de acordo com pessoas que tiveram o prazer de conhecê-lo pessoalmente, sua paixão e seu esplendor intelectual podiam ser facilmente detectados durante uma conversa.
Infelizmente, o americano faleceu no último dia 17 de junho, vítima de um derrame. Durante seus 84 anos de vida, Soulé construiu uma história brilhante o suficiente para ser lembrado por toda uma era. Ele é uma inspiração para nós, conservacionistas, e esperamos que seus princípios continuem vivos por muitos e muitos anos!