Você conhece as grandes personalidades da conservação? Ao longo dos anos, pudemos contar com alguns heróis que deram início a grandes ideias ou tiveram papéis importantes em determinados projetos de proteção ao meio ambiente. Seus princípios e histórias de vida são uma inspiração para nós, que formamos uma enorme corrente a favor da natureza.
Vamos explorar a história desses gigantes aqui em nosso blog. A informação é nossa principal arma. Por meio dela, desejamos munir a população de conhecimento, inspirar cidadãos comuns e trazer o maior número de pessoas para o “lado verde da força”.
Hoje vamos conversar sobre uma das maiores referências do Brasil na luta contra o desmatamento, afinal, hoje (15/12/21) esse importante herói da conservação faria 77 anos! Vamos falar sobre Chico Mendes!
Seringueiro
Nascido no ano de 1944 em Xapuri, Acre, Francisco Alves Mendes Filho, conhecido como Chico Mendes, cresceu em uma família de seringueiros.
Os seringueiros extraem látex das árvores seringueiras, nativas da floresta Amazônica. A extração do látex é o primeiro passo para a produção da borracha natural.
Durante toda a sua infância e adolescência, Chico acompanhou seus pais no trabalho. Aos 11 anos ele, inclusive, já extraia látex. Neste meio, ele percebia as difíceis condições que esses trabalhadores tinham que aguentar. Os seringueiros viviam em um regime de exploração, em que qualquer forma de oposição não era permitida e ainda, viviam endividados, já que em troca de seu trabalho, eles recebiam produtos industrializados, produtos pelos quais eles não conseguiam pagar.
Tal regime se mantinha pois, desde 1945, a borracha deixou de ser um importante produto de exportação, e esse modelo de exploração era o que ainda trazia resultados para a economia local. Viver nessa realidade foi suficiente para Chico querer mudar a vida dessas pessoas.
Sindicatos e vida política
Diferente da maioria dos seringueiros, Chico foi alfabetizado aos 16 anos por um refugiado político que vivia próximo a ele, Euclides Fernandes Távora. O que foi fundamental para ele fazer parte da diretoria do primeiro sindicato que surgiu no Acre, em 1975, o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia.
Dois anos depois, ele participou da fundação do Sindicato de sua cidade, Xapuri, onde mais tarde, em 1983, ele seria eleito presidente. Também em 1977 foi eleito vereador pelo MDB e já em 1980, junto a Lula, fundou o PT.
Em meio à vida sindical e política… Sai borracha, entra desmatamento
Por volta de 1970, a borracha já não era nada lucrativa. Com a entrada do governo militar, viu-se a necessidade de uma nova forma de ocupação da Amazônia. Palavras do general Castelo Branco, era necessário “Integrar, para não entregar”. Para isso, o governo priorizou a especulação fundiária da Amazônia para abrir espaço para a pecuária. E claro… com ela, veio muito… muuito desmatamento. E também, muita resistência. Afinal, os seringueiros não ficaram parados!
Em uma tentativa de tentar frear o desmatamento, os seringueiros e suas famílias se uniram sob a liderança do fundador do Sindicato de Brasiléia, Wilson Pinheiro e foram à luta. Chico, que já fazia parte da diretoria do sindicato, participou das ações.
Uma das formas de luta ficou conhecida como “Empate às derrubadas”. Nela, os seringueiros explicavam aos contratados pelos pecuaristas para desmatar, a importância das florestas para suas famílias, convidava-os a se tornarem seringueiros e desmontavam seus acampamentos, impedindo o desmate.
Várias eram as ações lideradas por Wilson, muitas, grandiosas. E com isso, vários eram os seus inimigos. Em 1980 ele foi assassinado dentro da sede do sindicato. Chico, tomou a liderança das ações.
O líder Chico Mendes
Chico liderou diversas ações contra o desmatamento, inclusive, Empates às derrubadas. Mas foi quando liderou o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, que suas ações ganharam repercussão nacional e internacional.
Durante o encontro foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e foi proposta a criação da “União dos Povos da Floresta”. Nessa união, índios e seringueiros deveriam se unir, afinal, eles têm o mesmo objetivo: proteger as florestas e sofrem as mesmas pressões. Também foi proposto a criação de Reservas Extrativistas, locais onde a floresta e seus povos seriam respeitados.
A partir daí, pessoas de vários países entraram em contato com Chico, que expôs suas lutas e os problemas locais. Com seu trabalho reconhecido também internacionalmente, Chico ganhou vários prêmios, inclusive o Prêmio Global 500 da ONU.
Família
Além de grande líder, Chico era um grande pai. Ele possuía três filhos, Ângela, do primeiro casamento, e um casal, Elenira e Sandino, do segundo casamento, com sua esposa Ilzamar.
Assassinato
Após suas batalhas ganharem repercussão, Chico sofria cada vez mais ameaças de seus inimigos. Infelizmente, no dia 22 de dezembro, uma semana após seu aniversário de 44 anos, ele foi assassinado.
Ele foi morto a tiros de escopeta, no quintal de sua casa, por Darci Alves, que cumpria ordens de seu pai, o fazendeiro Darly Alves. Os assassinos foram condenados a 19 anos de prisão, mas ficaram presos somente 3 anos, quando fugiram. Anos depois foram recapturados.
O legado de Chico Mendes permanece vivo!
Nos anos após sua morte, foram criadas as primeiras Reservas Extrativistas, categoria de Unidade de Conservação que se mantém até hoje. Uma delas, com 931 mil hectares, tem o seu nome: Reserva Extrativista Chico Mendes.
Chico também foi homenageado quase 20 anos depois, quando foi criado o órgão ambiental responsável por gerir todos os tipos de Unidade de Conservação: o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Esse herói nunca será esquecido. Ele sempre será sinônimo de resistência, de defesa de nossos povos e de nossa floresta. Ele sempre será inspiração para todos nós, que seguimos na luta contra o desmatamento, que seguimos lutando pela conservação de nossa biodiversidade.
Hoje, na data em que ele faria aniversário, relembramos a sua história e o seu legado. Assim como Chico nos inspirou a escrever essa matéria, esperamos ter inspirado vocês, com a sua história.
Caso queira conhecê-lo melhor, recomendamos o documentário “Eu Quero Viver” (1989), que você encontra neste link:
Texto por Jéssica Amaral Lara
Revisado por Diego Arruda