Você conhece as grandes personalidades da conservação? Ao longo dos anos, pudemos contar com alguns heróis que deram início a grandes ideias ou tiveram papéis importantes em determinados projetos de proteção ao meio ambiente. Seus princípios e histórias de vida são uma inspiração para nós, que formamos uma enorme corrente a favor da natureza.
Vamos explorar a história desses gigantes aqui em nosso blog. A informação é nossa principal arma. Por meio dela, desejamos munir a população de conhecimento, inspirar cidadãos comuns e trazer o maior número de pessoas para o “lado verde da força”.
Hoje vamos falar de uma mulher incrível que mudou a história das araras-azuis e segue lutando pela conservação das espécies. A bióloga, pesquisadora e professora Neiva Guedes!
Neiva Guedes nasceu no dia 10 de Dezembro de 1962, em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Inicialmente, sua vontade era a de cursar medicina e ser pediatra, mas, por precisar trabalhar para ajudar sua família em casa, acabou optando por um curso noturno e optou pela biologia. O que ela não sabia era que isso mudaria para sempre toda a sua vida e a de muitas outras pessoas.
Amor a primeira arara
Foi em 1987, na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, que Neiva se formou bióloga. Pouco tempo depois, realizou um curso de Conservação da Natureza, no qual conheceu o amor da sua vida: a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus).
Em entrevista concedida para o podcast “Alumnicast”, Neiva conta que, durante o curso, se deparou com uma árvore seca com um grupo de mais ou menos 30 araras e ficou maravilhada, porém, o professor deu a triste notícia de que elas estavam ameaçadas de extinção e poderiam desaparecer em pouco tempo. Neste momento a paixão e a luta pela conservação se iniciou.
Neiva iniciou suas pesquisas com a espécie em 1990, desenvolvendo seu mestrado intitulado “Biologia Reprodutiva da Arara-Azul (Anodorhynchus hyacinthinus) no Pantanal”. Nascia então o “Projeto Arara Azul” que hoje completa mais de 30 anos na ativa.
Neiva foi pioneira nos estudos sobre as araras-azuis e sua reprodução e estava determinada a impedir o seu desaparecimento. Entendeu que, além do tráfico de animais silvestres, a falta a e disputa por cavidades em troncos de árvores, que é o local em que as araras fazem seus ninhos, também era um fator determinante que ameaçava a reprodução da espécie.
O início do fim…da extinção
Em seu primeiro ano de pesquisa, Neiva cadastrou 54 ninhos de araras para serem monitorados. Andou a pé, pegou carona, andou a cavalo e de trator. Aprendeu a subir nas mais altas árvores e a andar no mato sem nenhuma referência que não fosse a própria natureza. Conversava com peões, cientistas, tomava cafezinho nas fazendas e estava sempre determinada no seu trabalho. Era a verdadeira “mulher das araras” como é chamada na região.
Empenhada em solucionar o problema dos ninhos, Neiva iniciou testes de instalação de cavidades artificiais na região habitada pelas araras e o resultado não poderia ser melhor! Essas cavidades, ou ninhos artificiais, foram aceitos pelas araras e utilizados para a reprodução.
Por não ter carro ainda, Neiva não tinha toda a autonomia que gostaria para seu deslocamento, porém, após apresentarem seu projeto para a Toyota, a bióloga virou piloto de teste da marca e passou a dirigir um jipe. Agora, além de bióloga, alpinista e motorista, Neiva também era piloto de teste.
Mesmo após finalizar o mestrado, as pesquisas de Neiva não cessaram, continuou com sua missão de aumentar a população de araras-azuis, conservar e entender mais sobre a espécie e suas relações com o meio.
Com a união se faz a força
Além das pesquisas, monitoramentos e observações científicas, Neiva sempre contou com o apoio da população local. Vários moradores se sensibilizaram pela causa e passaram a plantar árvores em suas propriedades, que passariam a serviriam de ninho para as araras no futuro no futuro. Além disso, passaram a fazer questão de implementar ninhos artificiais em suas propriedades e informar sobre novos ninhos ou novidades que acontecem quando não há pesquisadores em campo. Claro que esse trabalho iniciado pela Neiva só poderia ter rendido bons frutos ao longo dos anos . A população de araras-azuis, que era de 1.500 indivíduos nos anos 80, passou para 6.500 indivíduos em 2019!
Instituto Arara Azul
Em 2003 foi fundado o Instituto Arara Azul, uma ONG presidida por Neiva Guedes que apoia a realização de diversos projetos, inclusive o Projeto Arara Azul.
O Instituto tem sede em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul e tem como missão “Promover a conservação da biodiversidade, buscando a utilização racional dos recursos naturais e a melhoria da qualidade de vida.”
Clique aqui para conhecer mais sobre o Instituto e os projetos apoiados.
Por fim…doutora
Em 2009 Neiva se torna doutora em Zoologia pela Universidade Estadual Paulista defendendo a tese intitulada “Sucesso reprodutivo, mortalidade e crescimento de filhotes de araras azuis Anodorhynchus hyacinthinus (Aves, Psittacidae) no Pantanal, Brasil.”
A realidade é que só temos a agradecer ao universo por Neiva ter feito biologia e se apaixonado pelas araras-azuis.
A relevância dessa mulher na conservação não está escrita! A quantidade de material inédito produzido, informações que contribuíram para a salvação da espécie da extinção, a visão de que conservação se faz com várias mãos e pensando no ambiente como um todo… Sinceramente? Acho que no dia que a ver pessoalmente, é provável que eu chore de emoção, isso sim!
Deixamos aqui nossa admiração e agradecimento por tanto!
Gostou e quer saber mais? Deixarei para vocês alguns links que possam interessar!
Instagram Neiva: instagram.com/neivaguedes_
Instagram Instituto Arara Azul: instagram.com/institutoararaazuloficial
Site Instituto Arara Azul: institutoararaazul.org.br
Podcast “Mulheres Na Conservação”: O amor desta bióloga pelas araras salvou uma espécie da extinção
Texto por Anna Michette
Revisado por Fernanda Sá