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Imagine só: você está andando pelo mato, a trabalho ou apenas por lazer, quando de repente você avista duas onças-pintadas deitadas a 20 metros de onde você está. O que fazer? Correr? Sair de fininho? Assustá-las? Bom, isso é o que nosso biólogo Gustavo Figueiroa vivenciou em um dos seus trabalhos no Pantanal e hoje, ele nos contará qual a atitude correta frente a situações como essas. 

 

Onça-pintada e onça-parda

Antes de tudo é importante dizer que, no Brasil, temos duas espécies de onças. A onça-pintada (Panthera onca) e a onça-parda (Puma concolor). A onça-pintada é o maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo, podendo chegar a mais de 100 kg!  São animais carnívoros e predadores topo de cadeia, se alimentando desde animais pequenos a grandes antas e jacarés. Ocorrem em quase todos os biomas do Brasil, porém possuem populações maiores e mais estáveis no Pantanal e na Amazônia, uma vez que são áreas maiores, mais preservadas e com menor ocupação humana. 

 

Áreas de ocorrência da Onça Pintada. Imagem: IUCN

 

Devido a caça e a perda de habitat gerada pelo desmatamento, as onças-pintadas são consideradas “Vulneráveis” de acordo com o ICMBio-MMA e “Quase Ameaçada” pela IUCN. 

 

As onças-pintadas possuem pelagem amarelo-dourada e pintas pretas na cabeça, pescoço e patas. No resto do corpo possuem rosetas com pintas dentro, assim como mostrado no destaque. Foto: Gustavo Figueiroa

 

Já as onças-pardas, ou suçuaranas, são menores que as onças-pintadas, pesando entre 50 a 72 kg e possuem uma distribuição bem mais ampla, tendo populações bem estabelecidas por todo o país. Assim como as onças-pintadas, são estritamente carnívoras, mas apresentam uma dieta mais generalista, podendo comer até lagartos, aves e insetos. 

Áreas de ocorrência da onça-parda. Imagem: IUCN

 

Além de sofrerem com a caça, perda e fragmentação do habitat, também sofrem com atropelamentos. Devido a isso, seu status de conservação é “Vulnerável” pelo ICMBio-MMA, mas “Pouco preocupante” de acordo com a IUCN. 

As onças-pardas possuem cores que vão do cinza claro até um marrom avermelhado. Seus filhotes são bege/pardo com listras.

 

Foto: Milan Zygmunt / Shutterstock.com

 

Mas afinal, se elas são carnívoras, então estamos no cardápio delas? 

Para a glória e alívio de todos, não! Os seres humanos não fazem parte do cardápio da onça-pintada e nem da onça-parda.

 

Arte: Anna Luisa Michetti Alves/Greenbond. 

Então por que elas nos atacam? 

Bom, na verdade existem poucos registros de ataques de onças-pintadas a humanos no Brasil e de onça-parda não há nenhum. Basicamente, todos os ataques acontecem devido a conduta errada do ser humano, como por exemplo: aproximar de uma fêmea com filhote, aproximar-se enquanto uma onça se alimenta, durante o acasalamento ou encurralá-las. Nesses casos, elas podem atacar em uma tentativa de defender sua prole, sua comida ou elas mesmas.

 

O que fazer caso encontre uma onça  

Nosso biólogo Gustavo nos explicou tudinho sobre como nos portar e o que fazer em uma situação cara a cara com o perigo.

Primeiro de tudo: mantenha a calma. Isso evita que façamos alguma besteira. Segundo, fique parado e pareça maior. Podem ser levantados os braços, por exemplo. Vá se afastando devagar da onça, sempre de frente para ela. Observá-la enquanto se afasta é importante. Por fim, tome uma distância segura e siga seu caminho. Caso a onça se aproxime, levante os braços e grite. 

 

Arte: Anna Luisa Michetti Alves/Greenbond. 

 

O que NÃO fazer caso encontre uma onça

Não se aproxime mais. 

Não faça movimentos bruscos. 

Não se abaixe, não engatinhe, não se agache. 

Não vire de costas e não corra! 

Esses comportamentos são os de presa e não queremos que ela nos confunda com uma presa, não é mesmo? 

 

Arte: Anna Luisa Michetti Alves/Greenbond. 

 

E funciona mesmo? Nem tô botando fé…

Gu nos contou alguns relatos em que esteve cara a cara com onças-pintadas e agiu segundo as recomendações. Em todos os casos teve sucesso. 

 

“Ela tava muito perto de mim mesmo, a 4 metros. Era um pulo. É uma zona que a gente fala que é “a zona mortal”

Gus tinha começado seu trabalho monitorando onças no Pantanal havia pouco tempo. Ele e a equipe ficaram sabendo que uma onça-pintada havia matado um boi na região e arrastado a carcaça para uma área de mata fechada. O plano era pegar a carcaça e levar para uma região aberta a fim de atrair a onça à noite, quando eles voltariam. Início da execução do plano, aparentemente tudo tranquilo. Nenhum barulho, nenhum sinal de onça. Gustavo entrou na mata para amarrar uma corda no pé do boi e puxar com a caminhonete, quando ao tocar no animal, ouviu o esturro da onça que estava atrás de uma moita a apenas 4 metros de onde ele estava. “Ela tava muito perto de mim mesmo, a 4 metros. Era um pulo. É uma zona que a gente fala que é ‘a zona mortal’, não tem o que fazer (…) tem que confiar nas técnicas que eu falei”, relata Gustavo. 

Ao receber o aviso mais do que claro de soltar a caça, Gu largou o boi, se levantou calmamente e foi se afastando olhando em direção a moita e a carcaça, pois ele ainda não havia avistado a onça. Conseguiu se afastar até uma distância segura e voltou para o carro, vivo.  Tremendo mais que vara verde, mas vivo. 

 

Foto: Gustavo Figueiroa

 

Outra situação foi durante a temporada de captura de onças, que é quando os pesquisadores capturam onças para avaliá-las e colocar colares GPS para monitorá-las. Para as capturas são utilizadas armadilhas de laço, que ficam escondidas no chão. 

Na temporada em questão, ainda não haviam capturado nenhuma onça e, em uma das idas a campo, avistaram uma onça que tinha acabado de matar um jacaré. A onça se assustou com o carro e fugiu, deixando a caça para trás. A equipe então planejou usar o jacaré como isca e armar a armadilha ali perto, de modo que quando a onça retornasse para comer, fosse capturada para a pesquisa. 

E começa o processo… Enquanto o veterinário da equipe estava montando a armadilha, Gu foi pegar o jacaré para poder colocar como isca. Eis que a onça resolveu voltar e deu de cara com Gustavo carregando a presa que tinha acabado de caçar. Imagina a cena: o veterinário agachado montando a armadilha a menos de 10 metros da onça. Gustavo com o jacaré nos braços também a menos de 10 metros. A onça indo em direção dos dois, agachada, em posição de ataque. Tudo certo para dar errado. 

Mas é claro que nosso biólogo ia sair dessa. Imediatamente soltou o jacaré. O veterinário ao ver a cena, entendeu o que estava acontecendo e se levantou. A onça, que estava indo na direção deles, parou e os dois começaram a se afastando devagar, sempre de frente para ela, até chegar ao carro, que não estava muito distante.

 

Foto: Ailton Lara

 

Então o Gustavo que é um sortudo de ter saído ileso?

Não, ele apenas seguiu todas as recomendações para evitar um ataque e conseguir sair das situações em que entrou. É super importante ter em mente que a nossa resposta frente a ameaça é o que irá definir o resultado final. Se tivermos a resposta adequada, possivelmente sairemos ilesos. 

 

Foto: Paula Dias Ho

 

Outra informação importante: ao avistar uma onça, em uma uma distância segura, não esqueça de tirar uma foto bem bonita, porque é um privilégio, viu! 

 

Texto por Anna Luisa Michetti Alves

Revisado por Fernanda Sá