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O oceano cobre 71% da superfície do planeta, foi nele que surgiu a vida há bilhões de anos e ele que a mantém até hoje. O oceano é um grande regulador climático, mantém a temperatura ideal, absorvendo 90% do calor produzido pelas mudanças climáticas, fornece mais da metade do oxigênio que respiramos, cerca de 50 a 80% e absorve de 20% a 35% das emissões de CO2 produzido por nós. Muito importante, não é?!

Porém, ele sempre foi e continua a ser extremamente negligenciado e ainda, superexplorado. Os animais marinhos estão sendo super pescados, apresentando grandes impactos dessa prática nos mares e consequentemente, em nós mesmos.

Fica aí que vamos te explicar mais sobre isso.

 

Golfinho capturado por rede de pesca / Foto: Fishtek Marine

 

Pesca Predatória 

O oceano tem sofrido diversos impactos ao longo do tempo, porém a pesca predatória é, de longe, uma das piores. 

Um dos primeiros registros desta prática foi em 1800, quando os navios pesqueiros dos EUA caçaram as baleias por conta de seu óleo, tal ação dizimou populações, causando enorme desequilíbrio no ecossistema marinho. E isso continuou por anos, até que em 1986 a prática foi proibida. Mas sabemos que ela ainda ocorre em alguns lugares.

 

Baleia Franca caçada em Imbituba (SC) – 1920 / Foto: Joao Hipólito do Nascimento

 

A pesca predatória não parou por aí, ela foi ficando cada vez mais intensa. Quando falamos em sobrepesca, precisamos compreender que ela é uma prática industrial que captura quantidades gigantescas de organismos marinhos selvagens, sejam eles, peixes, ostras, mexilhões, caranguejos, lula, polvo e etc. 

 

Pesca retira milhares de toneladas de animais marinhos do oceano / Foto: Adam Dean – National Geographic

 

Os estoques pesqueiros estão chegando ao seu limite, apresentando drásticas reduções, pois a retirada desses animais é muito maior do que essas populações conseguem se reproduzir e assim, não se recuperar a tempo. Hoje, sabe-se que 90% de todos os recursos pesqueiros já foram sobrepescados e explorados, assim, a pesca deles está sendo além do seu limite. Nos últimos 40 anos, houve uma redução de metade das espécies marinhas. 

 

Pesca excessiva está levando o oceano ao limite / Foto: John Wallace

 

São mais de 156 milhões de animais pescados para o consumo humano. Infelizmente, os governos incentivam e financiam esta prática, fazendo com que aumente esse “mercado” industrial, tornando isso cada vez mais preocupante. 

Muitas vezes, não sabemos nem o quanto se está pescando, como é o exemplo do Brasil, em que 93% dos estoques pesqueiros têm origem desconhecida, sem saber os dados exatos do que está sendo pescado e sua quantidade.  

Além disso, essa excessiva pesca está levando o oceano a um desequilíbrio intenso, principalmente pelo fato de se estar retirando quantidades enormes de grandes peixes, como tubarões, atuns e diversos outros grandes predadores.

A exploração da pesca predatória retira cerca de 11.000 tubarões por hora e já eliminou 90% de algumas populações de grandes tubarões, como é o exemplo do tubarão branco e martelo. E ainda, desde a década de 70 as populações de elasmobrânquios, sendo estes, tubarões e raias, foram reduzidas a 71% de suas populações originais, segundo a Sea Shepherd Brasil

 

Finning: a pesca predatória dos tubarões 

Com isso, chegamos a prática do finning, que talvez você já deva ter escutado falar. Essa é uma prática muito cruel que está pescando inúmeras espécies de tubarões para a retirada de suas barbatanas. 

 

Barbatanas cortadas / Foto retirada de Divers for Sharks

 

Assim que pegam o tubarão, cortam suas barbatanas – com ele ainda vivo – e então, jogam de volta ao mar ou ainda, vendem ele como cação, sendo esse, um nome genérico de qualquer espécie de tubarão.

Cerca de 150 milhões de tubarões morrem todos os anos por conta dessa prática, em conjunto a pesca acessória e a prática da pesca de espinhel

Estes animais, são essenciais para todo o ecossistema marinho, já que são predadores topo de cadeia, assim equilibram toda a cadeia alimentar e sem eles, o oceano irá colapsar.

 

Pesca exploratória dos tubarões para o corte de suas barbatanas / Foto: Antony Dickson

 

Essa prática acontece em países asiáticos que utilizam esta parte do tubarão para fazer uma sopa, que não possui nenhum valor nutricional ou sabor. Somente há consumo porque é considerado de luxo e, sem comprovação alguma, dizem ser afrodisíacas. 

 

Tubarões mortos sem suas barbatanas / Foto retirada da Internet

 

Fora que, sua carne, está cada vez mais tóxica aos seres humanos, por apresentar altos índices de mercúrio. Por ser um animal topo de cadeia, ele acumula este metal pesado em sua carne.

 

Pesca Acessória (Bycatch)

As técnicas utilizadas na pesca são várias, como a pesca de arrasto, espinhel, rede de espera, entre várias outras. 

Porém, é através da pesca de arrasto que uma quantidade enorme de animais marinhos morrem. Essa prática consiste em uma grande rede presa a embarcações, então, arrasta o que se encontra na coluna da água, retirando toneladas de animais, alvos ou não da pesca. 

Assim, as redes de arrasto, apresentam baixa seletividade, causando um grande impacto na biodiversidade marinha, diminuindo drasticamente a população de inúmeras espécies, sendo elas golfinhos, tartarugas, baleias, aves marinhas, tubarões e diversos outros animais. 

 

Bycatch ocasionando a morte de golfinhos / Foto: BBC News

 

Cerca de 4 milhões de toneladas de animais são descartados por serem pescados sem intenção, pois são considerados sem valor econômico, assim, são devolvidos ao mar já sem vida, cerca de 40% de toda a pesca é jogada de volta já sem vida. 

Em média, 300 mil baleias e golfinhos morrem por conta disso, todos os anos, mas também 12 milhões de elasmobrânquios também são alvos desta prática, fora a infinidade de outros seres vivos que saem prejudicados.

 

Pesca Fantasma

A pesca fantasma consiste em redes de pesca que foram perdidas ou descartadas ilegalmente no oceano. Quando estão no oceano, continuam capturando animais, porém sem finalidade.

Pesca fantasma  / Foto: Ciclo Vivo

 

A cada ano, o número de redes de pesca fantasma, ou petrechos de pesca, aumenta em 640 mil toneladas. Quando estão no oceano, podem continuar matando animais marinhos por mais de 50 anos. 

Em contato com animais, ela pode mutilar, ferir, enforcar e afogar inúmeras espécies. Somente no Brasil, é estimado que mais de 580 kg de redes são perdidas por dia. E atingem cerca de 25 milhões de animais marinhos que são impactados por essa prática todo o ano, sendo 70 mil animais impactados POR DIA

 

Animal morto por rede de pesca / Foto: Global Garbage

 

Além disso, as redes são feitas de plástico, que depois de anos, começam a se degradar no oceano em forma de microplástico.

 

Como ajudar?

Podemos reduzir a nossa alimentação baseada em animais pescados industrialmente, como atum e camarão. E se não conseguir, procure pescadores artesanais que irão te contar como e onde eles foram pescados, já que o impacto deles é menor e ainda, eles dependem exclusivamente disso para gerar renda. 

Precisa-se criar novos parques marinhos para servir como refúgio destes animais que estão sendo dizimados. 

E ainda, não se alimentar, em hipótese alguma, de tubarões, sejam eles em forma de cação ou ainda, a sopa de barbatanas.

E, mais do que tudo, precisamos pressionar os governos a pararem de incentivar e financiar esta prática. 

Ainda mais, é necessário utilizar novos recursos tecnológicos para criar materiais de pesca acessíveis e mais seletivos. Um bom exemplo disso, o Projeto Tamar conseguiu propor um novo anzol que seria mais seletivo para os pescadores, evitando assim, fisgar outros seres vivos. 

 

Anzol do tipo “G” é mais seletivo do que o “J” / Foto: Projeto Tamar

 

E com isso, nos mostra a necessidade unir a ciência com os pescadores locais, trabalhando juntos, talvez conseguiremos salvar mais animais marinhos.

Pois, é extremamente assustador quando todos esses dados se unem e nos mostram o tamanho do impacto humano no oceano, evidenciando a quantidade de mortes e de sofrimento causado por nós. Precisamos parar e agir o mais rápido possível.

Lembrando que, sem o oceano, não há vida. 

 

Texto por: Giovanna Leite Batistão

Revisado por: Jéssica Amaral Lara