Dia Mundial dos Psitacídeos: descubra mulheres inspiradoras na conservação das aves
No dia 31 de maio, comemoramos o Dia Mundial dos Psitacídeos, uma data que destaca a importância da conservação dessas aves, que incluem as araras, papagaios, periquitos e diversas outras espécies. Esse texto de blog é uma oportunidade para reconhecermos o papel fundamental que algumas mulheres extraordinárias desempenham na conservação dessas aves ao redor do mundo. Conheça a lista que preparamos para você!
Joanna Burger: A voz da ecologia e do impacto ambiental
Professora de biologia na Rutgers University, especialista em ornitologia e comportamento animal. Entre suas mais de 25 obras publicadas, o livro The Parrot Who Owns Me (O Papagaio Que Me Possui: A História de um Relacionamentos em tradução literal) e destaca por sua abordagem sensível e transformadora da relação entre humanos e aves. A obra relata a convivência de 36 anos com Tiko, um papagaio-diadema (Amazona autumnalis salvini) que a “adotou” após a morte de seu antigo tutor.
O livro oferece uma compreensão profunda das necessidades emocionais e comportamentais dos psitacídeos. A forma como Joanna interpreta os sentimentos de Tiko e descreve sua personalidade oferece uma visão rara sobre o mundo interno das aves e sobre como o cuidado, o companheirismo e o amor influenciam diretamente sua qualidade de vida.
Tiko viveu até os 66 anos, sendo o exemplar mais longevo registrado de sua espécie. Ao revelar o sofrimento de um papagaioe o processo de construção de confiança entre os dois, Joanna chama atenção para a responsabilidade dos criadores e para a urgência de atitudes mais éticas e empáticas em relação aos animais.

Foto: Reprodução Le Nouve Lobs
Bernadette Coutain Plair
Filha do pântano de Nariva, em Trindade e Tobago, Bernadette Plair cresceu entre aves e manguezais. Ainda menina, demonstrou fascínio pela vida natural e protagonizou uma pequena revolução no colégio católico onde estudava, ao convencer a escola a oferecer aulas de biologia pela primeira vez.
Determinada, conquistou uma bolsa de estudos nos Estados Unidos mesmo sem nunca ter tido acesso a matérias como física ou química. Superou as barreiras com a ajuda das Irmãs da Caridade e formou-se em Biologia, tornando-se mestre em Ciências pela Universidade de Cincinnati.
Sua trajetória profissional passou por ensino, pesquisa clínica e conservação global da vida silvestre. No Zoológico e Jardim Botânico de Cincinnati, contribuiu para a reprodução em cativeiro do rinoceronte-de-sumatra, feito inédito em mais de um século. Mas seu maior legado está ligado ao seu país natal: em 1992, liderou o primeiro projeto de reintrodução da arara-canindé (Ara ararauna) no pântano de Nariva, onde a espécie havia sido extinta localmente décadas antes.
O projeto contou com apoio do zoológico americano, de instituições governamentais e, sobretudo, da comunidade local com ênfase na educação ambiental e no engajamento das crianças da região.
Bernadette fundou o CRESTT (Centro de Salvamento de Espécies Ameaçadas de Extinção de Trindade e Tobago), dando início a um movimento de conservação inédito no país.
Educadora, ela ainda hoje é referência na formação de novos conservacionistas e no combate à desigualdade de oportunidades no meio científico.

Foto: Jamie Thomas
Anna Croukamp
Nascida na Alemanha em 1946, cresceu em um ambiente artístico e intelectual, mas desde a infância cultivava uma forte conexão com a natureza. Seu amor por animais e pela vida ao ar livre a levou a estudar Medicina Veterinária, concluindo seu doutorado com uma pesquisa pioneira sobre o sistema imunológico das aves.
Trabalhou como veterinária de campo no Zimbábue e na Namíbia, onde enfrentou desafios extremos, de conflitos armados a estradas intransitáveis, sempre com coragem e determinação.
Nos anos 1990, Anna e seu marido Dennis Croukamp encontraram no Brasil um novo propósito de vida. Encantados pela biodiversidade da Mata Atlântica e pela grandiosidade das Cataratas do Iguaçu, mudaram-se para Foz do Iguaçu em 1993 e fundaram o Parque das Aves.
O projeto nasceu do zero, guiado por um esboço desenhado à mão por Anna e construído com os próprios recursos da família. Desde então, o Parque das Aves se tornou uma referência em conservação e educação ambiental no Brasil. Após a morte precoce de Dennis, Anna seguiu firme na missão de proteger as aves e o bioma ao redor, deixando um legado de coragem, sensibilidade e amor pela natureza.
Hoje, o Parque das Aves abriga diversas espécies de Psitacídeos. Conheça algumas das espécies e o propósito da instituição clicando aqui.

Foto: Reprodução Parque das Aves
Lorin Lindner
Ela é uma psicóloga que uniu papagaios resgatados e veteranos de guerra.
Nascida em Nova York em 1955, Lorin Lindner passou a infância entre a cidade e o campo, onde desenvolveu um profundo respeito pela natureza. Ainda jovem, enfrentou uma vida familiar instável, marcada por mudanças constantes e solidão: um cenário em que os animais de estimação se tornaram sua principal fonte de afeto.
A perda de seu periquito durante uma mudança deixou uma marca duradoura e despertou seu desejo de proteger esses animais.
A conexão de Lorin com as aves ganhou forma concreta na véspera de Natal de 1987, quando acolheu uma cacatua-das-molucas (Cacatua moluccensis), maltratada, chamada Sammy.
Ao conhecer a história da ave, tirada da natureza e passada de dono em dono, ela se deu conta da dimensão do tráfico de papagaios e do sofrimento que enfrentavam. A partir daí, sua missão ficou clara: dar voz a essas criaturas sencientes e negligenciadas.
Mas foi sua experiência como psicóloga que ampliou ainda mais seu impacto. Unindo duas causas pouco valorizadas, o bem-estar dos papagaios e a saúde mental dos veteranos de guerra, Lorin criou um projeto único.
Ao lado do veterano John Keaveney, transformou um antigo edifício abandonado do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA em um centro de reabilitação. Lá, veteranos feridos física e emocionalmente encontravam nas aves um refúgio poderoso para sua cura.
A sensibilidade das cacatuas abriu caminhos onde a linguagem humana falhava. Soldados que mal conseguiam se comunicar encontravam nas aves uma ponte para reconectar com a vida. Esse laço inspirou o nascimento do Serenity Park, inaugurado em 2005: um santuário terapêutico entre jardins floridos onde psitacídeos resgatados convivem com veteranos em recuperação.
Lorin, que também é autora do livro Birds of a Feather, construiu uma vida dedicada a curar feridas, humanas e não humanas, provando que o cuidado com a natureza pode ser uma poderosa forma de reconstruir pessoas.

Foto: California Psychological Association
Neiva Guedes
Nasceu em 1962, em Ponta Porã (MS), e não planejava seguir carreira na conservação: seu sonho era estudar medicina. Sem essa possibilidade, optou pela biologia, formando-se em 1987 pela Universidade Federal de Mato Grosso.
Em 1989, durante uma viagem ao Pantanal, se encantou ao ver um grupo de araras-azuis-grandes e descobriu que a espécie estava ameaçada. A cena a marcou profundamente, mudando o rumo de sua vida.
Determinada a entender e proteger a espécie, Neiva escolheu a arara-azul como tema de sua dissertação de mestrado na Universidade de São Paulo (USP). Mesmo com recursos escassos, iniciou seu trabalho de campo no Pantanal em 1990, contando apenas com o apoio de amigos e familiares.
Enfrentou desafios enormes: escalava árvores, pegava caronas em qualquer meio de transporte possível e acampava sem comunicação ou eletricidade. Com o tempo, atraiu apoios institucionais, como da Fundação Toyota e de fazendeiros locais, e fundou o Instituto Arara Azul, que transformou o cenário de conservação da espécie no Brasil.
Com sua liderança, o projeto monitora ninhos, recupera habitats e envolve comunidades locais e fazendeiros na proteção das araras. O trabalho de Neiva teve impacto internacional e inspirou outros fundos dedicados à conservação da espécie.
Mesmo reconhecendo o apoio coletivo, foi sua iniciativa, coragem e dedicação incansável que fizeram a diferença. Seu legado é um dos maiores casos de sucesso da conservação de aves no mundo.
Para saber mais sobre ela, confira o nosso texto do Bond da Conservação. Clique aqui.

Foto: Instituto Arara Azul
Gláucia Seixas
Desde o fim dos anos 1990, o nome de Gláucia Seixas está diretamente ligado à proteção do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), uma das espécies mais afetadas pelo tráfico de filhotes no Brasil.
Idealizadora do Projeto Papagaio-Verdadeiro, Gláucia transformou a indignação diante dos ninhos saqueados e o sofrimento das aves em ações concretas de pesquisa, educação ambiental e conservação.
Com formação em Zootecnia e doutorado em Ecologia e Conservação da Natureza, ela atua há mais de 25 anos nos biomas Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, combatendo o comércio ilegal de aves e promovendo estratégias para sua reintrodução na natureza.
Com o apoio de parceiros como o Parque das Aves e Parrots International, o projeto liderado por Gláucia se consolidou como referência na luta pela conservação dos psitacídeos no Brasi.l
Seu trabalho vai desde o monitoramento de ninhos e o resgate de filhotes até a instalação de ninhos artificiais e a articulação com comunidades e fazendeiros locais. Em um cenário de pressões crescentes sobre os habitats naturais, Gláucia tem sido uma das principais vozes em defesa das espécies silvestres e um símbolo de dedicação à conservação.

Foto: Reprodução Projeto Papagaio-Verdadeiro
Silvana Davino
Nasceu em São Paulo e desde pequena teve contato com animais domésticos e silvestres, cultivando o respeito à natureza com influência direta dos pais, um geólogo e uma geógrafa. Embora tenha se formado em moda, sua conexão com o meio ambiente permaneceu forte ao longo da vida.
Em 2003, após se mudar para Ilhabela, Silvana teve seu primeiro contato com a reabilitação de aves silvestres ao resgatar um periquito-rico (Brotogeris tirica) com a asa quebrada: seria o início de uma missão de vida.
A dedicação ao cuidado com as aves levou à fundação do ASM Cambaquara, centro de reabilitação que recebe, trata e reintroduz aves da fauna local, como tiribas-de-testa-vermelha, papagaios-moleiro e tucanos.
Desde então, centenas de aves passaram pelo local, muitas delas vítimas de colisões, predação doméstica ou tráfico ilegal. Em 2016, Silvana formou-se em biologia e tornou-se diretora técnica da instituição.
Além do trabalho de reabilitação, Silvana coordena ações de educação ambiental com crianças, jovens e profissionais, levando informações sobre fauna silvestre, habitats e conservação para escolas, eventos e escoteiros.
A equipe também produziu vídeos educativos durante a pandemia, garantindo a continuidade das ações. O projeto que começou com um filhote órfão se tornou uma referência na proteção dos psitacídeos da Mata Atlântica, demonstrando como o cuidado de uma pessoa pode transformar a realidade de uma comunidade e de muitas aves.

Foto: Patrick Pina | Reprodução Fauna News
Por que celebrar o Dia Mundial dos Psitacídeos?
Essas histórias são só uma amostra do impacto que mulheres comprometidas com a conservação têm em todo o planeta. No Dia Mundial dos Psitacídeos, é essencial lembrar que a proteção dessas aves depende do trabalho científico, do engajamento comunitário e do respeito ao meio ambiente.
Na GreenBond, acreditamos que a inspiração que vem dessas mulheres pode impulsionar novas ações e fortalecer a conexão entre humanos e natureza.
Sobre o Livro “Mulheres Inspiradoras na Conservação das Aves”
Este blog foi baseado nas histórias do livro Mulheres Inspiradoras na Conservação das Aves: uma obra que reúne histórias de cientistas, biólogas e conservacionistas que dedicam suas vidas à proteção desses animais.
Publicado com o apoio do Documenta Pantanal, o livro está disponível para aquisição no site oficial da iniciativa.
O Documenta Pantanal é uma iniciativa para contar histórias, revelar belezas, alertar sobre urgências e reunir quem acredita na força da informação. A organização é um dos clientes aqui na GreenBond! Demais né?
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Texto por: Júlia Quintaneiro
Revisado por: Juliana Cuoco Badari