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No dia 16 de março é comemorado, no Brasil, o Dia da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas. Uma data extremamente relevante para refletirmos sobre a nossa relação com o planeta, e sobre as consequências das alterações climáticas para nós e toda a biodiversidade. Pensando nisso, decidimos falar de uma espécie muito conhecida, que vem sendo gravemente afetada: o urso-polar. 

Notícias desses animais debilitados, passando fome, em um ártico cada vez mais sem gelo, não param de surgir. Ameaçados de extinção, suas populações estão reduzindo, e os seres humanos precisam urgentemente se responsabilizar e se conscientizar sobre o assunto. Continue acompanhando e entenda de vez o porquê as mudanças climáticas afetam tanto os maiores carnívoros do mundo.

 

Foto: aguasdoalgarve.pt.

 

Ursos-polares

 

Foto: Ralph Lee Hopkins, National Geographic.

 

Antes de falar sobre os desafios que esses animais vêm atravessando, vale lembrar quem são eles. Os ursos-polares (Ursus maritimus) são os maiores carnívoros da Terra – um macho adulto pode chegar a 2,5m de altura quando em posição ereta e pesar até 800 quilos!

 

Foto: Daniel J. Cox.

 

Solitários, eles vivem no círculo polar Ártico, a temperaturas que chegam, no inverno, a -46 graus. A princípio, o clima pode soar congelante, mas para a espécie, o frio é fundamental. 

Dentre suas várias adaptações para viver nesse ambiente gelado, está a sua espessa camada de gordura, associada a uma pele de coloração preta (isso mesmo!), que ajuda na absorção de calor, recoberta por uma pelagem branca densa, importante também para sua camuflagem. Soma-se a isso, suas táticas de alimentação inovadoras. Por exemplo, ao cavar buracos no gelo, utilizando-os para se esconder e poder vigiar sua presa (principalmente mamíferos marinhos), esperando que elas subam para respirar. 

O seu habitat é obviamente perfeito e a sua dependência do gelo é maior do que imaginávamos. Além de utilizá-lo diretamente para caçar, migrar, acasalar e criar seus filhotes, alguns estudos observaram que suas principais presas (focas e belugas) alimentam-se de algas, que ficam grudadas na parte debaixo do gelo, ou de animais que as consomem. Assim, o gelo ártico tem relação também com a disponibilidade alimentar dos ursos. E é aí que entra uma grande ameaça a esses mamíferos: as mudanças climáticas. 

 

Mudanças climáticas x ursos polares

 

Foto: Ralph Lee Hopkins, National Geographic.

 

Estudos publicados pelo Programa de Observação da Terra da União Europeia mostram que os últimos 8 anos (2015-2022) foram os mais quentes já registrados no planeta e a concentração média anual global de gás carbono e metano (gases que causam o efeito estufa) vem aumentando continuamente.

O aquecimento global está fazendo com que o mar Ártico congele cada vez mais tarde e derreta cada vez mais cedo. Isso faz com que os animais, que necessitam do gelo principalmente no inverno para caçar em grande quantidade, para que fiquem com estoque de gordura para o verão, tenham menos tempo e menos presas para se alimentar.  

Por exemplo, a temporada de caça no gelo para os ursos da Baía de Hudson Ocidental tem sido de três a quatro semanas mais curta do que há apenas 40 anos (na década de 80). Com isso, essa subpopulação anteriormente estimada em cerca de 1.200 ursos, já reduziu em 30% nas últimas 4 décadas.

 

Com dificuldades para conseguir caçar focas, ursos-polares podem morrer de fome – Foto: Andreas Weithpolar/ Creative Commons.

 

A previsão é que a calota polar quase desaparecerá por completo durante o verão nos próximos 100 anos. E, provavelmente, até mesmo o gelo de inverno sobre a plataforma continental no Ártico europeu também desaparecerá.

Com menos tempo sob o gelo e menos alimento, os ursos irão se reproduzir cada vez menos e a taxa de sobrevivência de seus filhotes, criados principalmente em tocas, também reduzirá. Forçados a migrar para áreas cada vez mais distantes, acabam tendo um gasto de energia excessivo, que, associado a falta de um estoque de gordura adequado para isso, ocorre um aumento da taxa de mortalidade da espécie, além de ficarem mais vulneráveis à caça não regulamentada..

Infelizmente, a espécie já é classificada como Vulnerável segundo a Lista Vermelha de Animais Ameaçados de Extinção da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês). As suas populações estão reduzindo e estima-se que há de 20 a 25 mil indivíduos maduros na natureza. Vale ressaltar que ainda há outras ameaças que os cercam, como a poluição do ártico e o conflito com humanos.

 

Menos gelo = mais notícias tristes

 

Ursos-polares famintos reviram o lixo em busca de comida no arquipélago de Nova Zembla, na Rússia – Foto: The Sun/Reprodução.

 

Para exemplificar a gravidade das mudanças climáticas para os ursos-polares, trouxemos duas notícias de partir o coração. Em busca de alimento, entre 2018 e 2019, ursos-polares invadiram e deixaram a pequena cidade de Belushya Guba, localizada no arquipélago de Nova Zembla, na Rússia, em estado de emergência. Mais de 50 ursos foram avistados na região, deixando os 2.500 moradores do vilarejo assustados. 

Famintos, os animais reviraram lixeiras e vasculharam prédios à procura de comida (confira o registro completo no vídeo do jornal The Guardian abaixo).

 

 

Em outra situação, um urso migrou mais de 320 quilômetros da costa mais próxima, chegando a  3.200 metros de altura, na remota estação de pesquisa científica dos EUA, localizada no meio do manto de gelo da Groenlândia. Lá, ele revirou o lixo e cheirou as barracas em busca de alimento. Essa foi mais uma notícia chocante sobre espécie, e o registro, dessa vez, em um lugar ainda mais alto, distante e inusitado, comparado ao que já havia sido observado.

 

Foto: Pat Smith, National Geographic.

 

Como ajudar

 

Com objetivo de conscientizar cada vez mais pessoas sobre a espécie, chamando a atenção para os desafios enfrentados por ela em um Ártico cada vez mais quente, a Polar Bear International organiza o Dia Internacional do Urso-Polar, celebrado em 27 de fevereiro. 

Durante a data, diversas instituições ao redor do mundo divulgam informações sobre esses seres maravilhosos.

O Biofaces tem uma matéria incrível sobre os ursos polares, nela contamos sobre os melhores lugares do mundo para observá-los em vida livre. Que tal se aprofundar ainda mais? 

 

O urso-polar (Ursus maritimus) é considerado vulnerável pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês) e se tornou o grande símbolo na luta dos conservacionistas contra as mudanças climáticas – Foto: Schliebe, Scott/ Domínio público.

 

A ONG Polar Bear Internacional também apoia pesquisas para a conservação dos ursos e sugere diversas ações para a sociedade, visando reduzir as mudanças climáticas e a perda do gelo marinho. Uma delas é desestimular o uso de energia produzida por combustíveis fósseis, que liberam gás carbônico. 

Reduzir as emissões de carbono pode retardar e até impedir o aquecimento global, salvando assim o gelo marinho que os ursos polares necessitam para caçar com eficiência e também ajudando a humanidade, que cada vez enfrenta mais desastres naturais, desde secas e inundações até grandes tempestades, devido às mudanças no clima.

O assunto é muito amplo e há várias formas de colaborarmos com o planeta. Neste Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, convidamos todos a repensar nossas atitudes e hábitos, buscando reduzir o nosso impacto no mundo. Neste link, vocês encontram 10 sugestões de mudanças que podem ser aplicadas no dia-a-dia. 

No Brasil, sugerimos que você acompanhe o Observatório do Clima, uma rede que reúne entidades da sociedade civil com o objetivo de discutir as questões a cerca das mudanças climáticas no contexto brasileiro.

Por fim, outra ótima forma de ajudar é compartilhar conhecimento. Que tal nos ajudar na sensibilização, divulgando essa matéria? 

 

Texto por: Jéssica Amaral Lara

Revisado por: Juliana Cuoco Badari