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Bond da Conservação: Yosio Shimabukuro e a contribuição do monitoramento ambiental no Brasil

Por novembro 6, 2025Não categorizado7 min leitura

Você conhece as grandes personalidades da conservação? Ao longo dos anos, pudemos contar com alguns heróis que deram início a grandes ideias ou tiveram papéis importantes em determinados projetos de proteção ao meio ambiente. Seus princípios e histórias de vida são uma inspiração para nós, que formamos uma enorme corrente a favor da natureza.  

Vamos explorar a história desses gigantes aqui em nosso blog. A informação é nossa principal arma. Por meio dela, desejamos munir a população de conhecimento, inspirar cidadãos comuns e trazer o maior número de pessoas  para o “lado verde da força”.


Entre os nomes que marcaram a história da conservação ambiental brasileira está Yosio Shimabukuro, um cientista cuja trajetória no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) redefiniu a forma como o Brasil – e o mundo – monitoram a cobertura vegetal e compreendem as transformações ambientais por meio do sensoriamento remoto.

A seguir, contamos quem foi Yosio e como suas contribuições moldaram o futuro da conservação ambiental e da ciência no país.

Yosio Shimabukuro (à direita), pioneiro no uso de satélites no combate ao desmatamento, ao lado de Ricardo Galvão durante homenagem no Inpe. Foto: Vanderlim Bastos/INPE.

Uma vida dedicada à ciência e à floresta

Imagem de satélite da Amazônia capturada pelo sensor WFI/Amazônia-1. Foto: Coordenação-Geral de Observação da Terra / INPE — Licença CC BY-SA 2.0.


Formado em Engenharia Florestal pela Universidade de São Paulo (USP), em 1972, Yosio obteve em seguida mestrado em Sensoriamento Remoto no INPE (1977) e doutorado em Sensoriamento Remoto pela Universidade de Sheffield (Reino Unido) (1987). Ele também realizou pós-doutorado no NASA Goddard Space Flight Center (1993) nos EUA.

Yosio uniu a precisão da engenharia à sensibilidade ambiental de quem entende que cada árvore carrega uma história ecológica e social.

No INPE, onde atuou por mais de três décadas, foi pioneiro no uso de imagens de satélite e modelagem espacial para compreender a dinâmica da cobertura vegetal brasileira. Seu propósito era claro: detectar e compreender as mudanças recentes na vegetação do planeta, especialmente em biomas vulneráveis como a Amazônia.

Ao longo de sua carreira, construiu uma ampla rede de cooperação científica junto à pesquisadores  como Gilberto Câmara, Carlos Nobre e Luiz Aragão, fortalecendo a integração entre pesquisa, tecnologia e políticas públicas. Trabalhou em parceria com a NASA, NOAA, ESA e instituições brasileiras como o IBAMA, o Ministério do Meio Ambiente e o governo federal, consolidando o Brasil como referência mundial em monitoramento ambiental por satélite.

Os resultados de seus projetos serviram de base para programas estratégicos do governo, como o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), além de embasar relatórios oficiais sobre mudanças climáticas apresentados pelo Brasil à ONU.

Mais do que produzir conhecimento, o ambientalis defendia a ciência aberta e acessível, capaz de empoderar gestores, pesquisadores e a sociedade civil. Ele via no uso das imagens de satélite uma ferramenta de justiça ambiental e de gestão sustentável do território brasileiro.

Principais contribuições científicas

A trajetória  de Yosio Shimabukuro no INPE é marcada por décadas de inovação, colaboração científica e resultados concretos para o meio ambiente. Sua visão revolucionou a forma como o Brasil observa suas florestas e inspirou uma geração de pesquisadores que hoje seguem seus passos.

Sua contribuição esteve diretamente ligada à criação e aperfeiçoamento de sistemas que transformaram a observação da Terra e o acompanhamento das mudanças ambientais:

PRODES: A base do monitoramento da Amazônia

Criado no final dos anos 1980, o PRODES (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia) foi um divisor de águas. Pela primeira vez, o Brasil passou a contar com dados anuais e precisos sobre o desmatamento, obtidos por meio de imagens de satélites.


Essas informações foram disponibilizadas ao público, garantindo transparência e oferecendo subsídios essenciais para a formulação de políticas de controle e conservação florestal.

DETER:  Resposta rápida às ameaças ambientais

Nos anos 2000, Yosio esteve entre os idealizadores do DETER (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real), ferramenta desenvolvida pelo INPE para identificar áreas de desmatamento quase imediatamente após sua ocorrência. 

Diferente do PRODES, que produz estimativas anuais consolidadas, o DETER foi criado para emitir alertas rápidos e apoiar a atuação  de órgãos de fiscalização como o IBAMA e o ICMBio. Com esse sistema, o Brasil passou a agir antes que a perda florestal se consolidasse, uma verdadeira revolução na gestão ambiental pública.

MODIS: A visão global da Terra

Yosio também foi pioneiro no uso do MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), sensor da NASA instalado nos satélites Terra e Aqua. A partir dessas imagens, desenvolveu metodologias para monitorar queimadas, regeneração florestal e variações climáticas de maneira contínua e integrada. 

O uso do MODIS foi essencial para o avanço dos estudos sobre mudanças no uso do solo, dinâmica de ecossistemas e impactos das mudanças climáticas, ampliando a capacidade do Brasil de compreender e responder às transformações ambientais em escala global.

Uma marca na história da proteção às nossas florestas

Mais do que sistemas e algoritmos, Yosio Shimabukuro deixou um legado humano e ético. Ao longo de sua história contribuiu com a formação de, novos cientistas, capacitou técnicos e mostrou que cuidar do meio ambiente é, acima de tudo, um ato de responsabilidade coletiva.

As tecnologias que ajudou a desenvolver seguem em operação, gerando dados  que orientam pesquisas, políticas públicas e ações de conservação. 

São o reflexo de uma vida dedicada a transformar  conhecimento em cuidado, e prova de que a ciência pode, sim, nascer do compromisso com a vida. 

Yosio acreditava que ver é o primeiro passo para proteger, e , graças a ele, o Brasil aprendeu a olhar para suas florestas com mais precisão e consciência, ainda que, hoje, esse olhar precise ser constantemente reafirmado diante dos desafios que ameaçam a conservação ambiental no país.

Texto por: Maria Laura Gonçalves Costa 

Revisado por: Juliana Badari