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Você conhece as grandes personalidades da conservação? Ao longo dos anos, pudemos contar com alguns heróis que deram início a grandes ideias ou tiveram papéis importantes em determinados projetos de proteção ao meio ambiente. Seus princípios e histórias de vida são uma inspiração para nós, que formamos uma enorme corrente a favor da natureza.  

Vamos explorar a história desses gigantes aqui em nosso blog. A informação é nossa principal arma. Por meio dela, desejamos munir a população de conhecimento, inspirar cidadãos comuns e trazer o maior número de pessoas  para o “lado verde da força”.

Hoje vamos conversar sobre uma das maiores referências mundiais em vida marinha. Vamos falar sobre Sylvia Earle.

 

Foto: Bates Littlehales/National Geographic

 

Descobrindo a paixão pelo mar

Nascida no ano de 1935 em Nova Jersey, Estados Unidos, Sylvia Earle cresceu sendo uma criança bastante interessada pela natureza. Sempre com o hábito de curtir a própria companhia, desde nova adquiriu o costume de brincar e explorar a natureza, passando às vezes, um dia inteiro fora.

Aos doze anos, mudou-se para a Flórida com sua família, onde se apaixonou pelo mar. O Golfo do México era seu quintal onde podia ser parte de toda aquela imensidão azul. Procurava os pequenos animais e se encantava pelas algas que chegavam na areia. Sentia como se aquele fosse seu zoológico particular. 

Na escola, sempre foi uma aluna aplicada e no documentário “Mission Blue” (2014), Sylvia conta que: “sempre quis fazer o que os cientistas fazem”. 

Uma das primeiras figuras que encantaram Earle foi William Beebe, um naturalista e explorador, que através do livro “Half Mile Down” descreve a experiência de mergulhar 800 metros abaixo da superfície utilizando uma batisfera (uma esfera oca de aço com uma janela para observação).  Jacques Cousteau foi outro personagem chave que influenciou Sylvia a querer mergulhar e ver todo aquele mundo cheio de vida na vastidão azul. 

 

Batisfera. Foto: Wikipédia.

 

Respirando embaixo d’água

O primeiro equipamento de mergulho SCUBA, aquele em que utiliza um cilindro de ar comprimido permitindo a respiração subaquática, foi inventado por Jacques Cousteau. Essa invenção tornou o mergulho e a exploração do mar mais simples. 

Quando entrou na faculdade de biologia marinha em 1953, Sylvia teve acesso a um desses equipamentos de mergulho através de um professor. A cada mergulho, a estudante queria ficar mais tempo submersa e chegar cada vez mais fundo. Considerava o mar uma galáxia subaquática.

 

Foto: Acervo Sylvia Earle Twitter

 

Quando formada, não demorou para ingressar no mestrado na Duke University, onde se especializou em botânica, pois Sylvia acreditava que entender a vegetação era o primeiro passo para entender o ecossistema.

Iniciou seu doutorado também na universidade de Duke, estudando as algas do Golfo do México. Na universidade conheceu John Taylor com quem se casou e teve uma filha, nesse tempo deu uma pausa nos estudos.

 

Foto: Tyrone Turner—National Geographic Image Collection/Alamy

 

A primeira de muitas expedições

Em 1964 Slyvia recebeu um convite único para integrar a Expedição Internacional ao Oceano Índico. Como uma boa cientista curiosa e com ânsia de explorar o azul, ela não deixaria essa oportunidade de ouro passar, mesmo que isso significasse deixar seu marido e seus dois filhos (uma de quatro e o outro de dois anos), por seis semanas. 

A expedição contava com setenta homens e apenas Sylvia de mulher, mas isso não a intimidava. 

A expedição tinha como objetivo documentar a natureza marinha e explorar o que havia debaixo d’água em regiões ainda não visitadas. O resultado foi 7.250 kg de peixe, 90 kg de camarão e quase uma tonelada de caranguejos coletados para estudos. 

Pouco tempo após retornar, mais uma oportunidade de participar de outra expedição surgiu, dessa vez para o sudeste do Pacífico e claro que Sylvia não negou, porém isso significou o fim de seu casamento.

 

Foto: Acervo Sylvia Earle Twitter

 

Nesse mesmo ano, continuou sua tese com as algas. Coletava, registrava, catalogava. Queria entender quem vivia ali, o que eram e registrar todas aquelas que não tinham sido registradas ainda.  Em 1966 recebeu seu título de doutora.

Sua coleção de algas acabou ficando tão grande que Sylvia doou parte delas, cerca de 20 mil espécimes, para o Instituto Smithsonian Museu Nacional de História Natural de Washington, D.C.

Mais uma expedição à vista! Desta vez para as Ilhas Galápagos. Sylvia e mais 11 cientistas iriam mergulhar em águas onde ninguém havia mergulhado antes. Earle havia se tornado uma grande cientista e exploradora. Quando não estava mergulhando estava na academia.

 

Base Tektite II

Um dia, quando estava em Harvard em 1969, Sylvia viu uma chamada no quadro de avisos para passar duas semanas nas águas do caribe mergulhando nas Ilhas Virgens. O projeto de pesquisa consistia em viver na base subaquática de pesquisa, Tektite II, durante quatorze dias para mergulhar e explorar a área e os seres viventes. 

Sylvia, sem pensar duas vezes, se inscreveu para vaga e depois de muitas ponderações por parte dos contratantes, pelo fato de ser mulher, foi selecionada para liderar a equipe do projeto. Para surpresa de Sylvia, lhe surgiu uma exigência: A equipe deveria ser composta inteiramente por mulheres, para evitar a convivência entre homens e mulheres na base. Sylvia aproveitou essa  exigência como uma ótima oportunidade e liderou com maestria uma equipe composta por mais quatro mulheres.

As pesquisadoras ficavam na água de 10 a 12 horas por dia, “Eu me sentia uma criança em uma loja de doces, só que tudo era vivo”, conta Earle no documentário “Mission Blue”. Essa experiência mudou bastante a perspectiva de Sylvia em relação aos oceanos e as criaturas que nele vivem. A pesquisadora estava começando a compreender mais a fundo a dinâmica e peculiaridades ali existentes.

 

Da esquerda para direita: Ann Hartline, Alina Szmant, Peggy Lucas, Renate True, Sylvia Earle, as cientistas da Tektite II. Foto: Bettmann/CORBIS

 

Entra a cientista, sai a figura pública

Quando o projeto da base Tektite II terminou e as cientistas voltaram para a superfície, elas se tornaram uma espécie de celebridades. Saíram em um desfile pelas ruas de Chicago e receberam a chave da cidade pelo próprio prefeito. Agora estavam na mídia, mostrando que mulheres podiam ser cientistas, mergulhadoras, que podiam ocupar lugares que antes eram exclusivamente masculinos. 

Os holofotes também serviram para que Sylvia pudesse agir em defesa dos oceanos e da pesquisa, buscando conscientizar as pessoas sobre os danos que causamos a eles, além de poder mostrar ao público, por meio de filmes e livros,  um pouco sobre a diversidade marinha.

 

Traje JIM

Em 79, Sylvia teve a oportunidade de mergulhar utilizando um traje pressurizado, o traje JIM, que permitia mergulhar em grandes profundidades e voltar à superfície sem precisar passar horas em descompressão. 

Ninguém havia ainda passado de 300 metros de profundidade, mas para uma exploradora como Sylvia, não há desafios que ela não aceite. 

Descendo a 380 metros, Earle caminhou por duas horas e meia em solo submarino, descobrindo diversas criaturas que no completo escuro brilhavam e “soltavam faíscas”.

Sempre interessada em ir cada vez mais fundo, Sylvia começou a colaborar com engenheiros, planejar seus próprios submarinos e chegou até a fundar sua própria empresa.

 

Traje JIM. Foto: Phil Nuyeten /Cortesia Rolex/O Globo

 

Indo a luta

Em 1990, Sylvia foi nomeada cientista chefe da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (NOAA), onde supervisionou a pesca e as águas do litoral dos Estados Unidos. 

Foi uma grande oportunidade para Sylvia, uma vez que ao estar em um grande cargo, poderia fazer grandes mudanças, lutar pelo que acreditava. Pelo mesmo era no que acreditava.

Foi quando Sylvia se deparou com uma situação bastante incômoda. Muito do que falava como cientista, os dados de impactos ambientais e as medidas que teriam que ser tomadas para mudar a realidade, não eram bem recebidos e, muitas vezes, pediam para que ela não falasse tais coisas. Frustrada, Sylvia decidiu sair do cargo. Para a cientista, se não pudesse falar o que queria e precisava, não valia a pena ocupar aquele cargo. Estando do lado de fora, tinha a liberdade de lutar pelo que acreditava e pensava.

Ao longo de sua carreira, escreveu muitos livros, matérias para revistas como a National Geographic, ministrou diversas palestras ao redor do mundo defendendo a proteção dos oceanos, participou de diversas expedições e mergulhou por mais de sete mil horas.

Sempre lutando pela conservação, ganhou diversos prêmios como o prêmio TED (2009), conferido a personalidades que são capazes de provocar mudanças

 

Foto: James Duncan Davidson/TED

 

Com o apoio da organização TED, Sylvia fundou a organização Mission Blue, que tem como objetivo explorar, conservar e proteger os oceanos por meio da criação de áreas protegidas, chamadas de pontos de esperança. 

 

Entrevistas e filmes

Ver Sylvia falando sobre o oceano e sobre conservação é extremamente inspirador. A luta, perseverança e esperança nos dão força para nos juntarmos à causa.

Deixo aqui algumas entrevistas e filmes com Sylvia Earle que valem a pena ver.

Entrevista para a National Geographic: aqui 

Entrevista para a Rolex: aqui

Entrevista para O Globo: aqui

Mission Blue Organização: aqui

Filme Mission Blue (Netflix): aqui

Filme Seaspiracy (Netflix): aqui

Filme Plastic Ocean (Netflix): aqui

 

Texto por: Anna Luisa Michetti Alves

Revisado por Fernanda Sá