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Todos os anos, ocorre um fenômeno nos rios brasileiros: a piracema. Velha conhecida das populações indígenas brasileiras, seu nome tem origem na língua Tupi. Piracema vem de pirá (peixe) e sema (saída), referenciando à migração dos peixes rio acima. Mas você sabe por que esses peixes migram e para onde vão? Vamos te contar!

 

Período de Migração

O início da piracema ocorre com a proximidade do verão, quando os dias ficam mais quentes e as chuvas ficam mais frequentes, aumentando a oxigenação da água. Estes fatores ambientais são gatilhos que desencadeiam respostas fisiológicas nos peixes, são sinais para o início de sua viagem.

O período desta migração é variável dentro de cada espécie, podendo ser divididas em espécies de curtas distâncias (até 100 km), como os lambaris, e de longas distâncias (acima de 100 km). Um exemplo impressionante de longas distâncias é a piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii), que parte da foz do rio Amazonas e nada até a cidade de Iquitos, no Peru. Uma jornada de cerca de 5500 km, que pode levar até seis meses para ser percorrida.

Piramutaba. Foto: Ivaneide Assunção – Museu Paranaense Emílio Goeldi

Piramutaba. Foto: Ivaneide Assunção – Museu Paranaense Emílio Goeldi

Estratégia de Reprodução

Você pode estar se perguntando o papel de uma migração tão exaustiva, e a resposta é: ela é essencial para o sucesso reprodutivo desses animais. Algumas espécies, consideradas migradoras, necessitam de diferentes ambientes para completar seu ciclo de vida, entre eles, a área de desova.

Esta área está, normalmente, localizada nas áreas de cabeceira dos rios e é neste sentido que se direciona a migração dos peixes. Ao cumprir esse desafio, os peixes adultos desenvolvem parte do seu sistema reprodutivo, maturam seus gametas e, posteriormente, fazem a desova.

Ao alcançar seu destino final, as fêmeas liberam seus ovos que serão fertilizados pelos machos. Por isso, a migração em um momento único é importante, já que aumenta as chances de fecundação.

Foto: Imasul

 

Obstáculos

Atualmente, os peixes migradores enfrentam uma série de obstáculos para realizar a piracema. Existem os naturais, como as fortes correntezas e o relevo natural dos rios, e os criados por humanos, como as barragens.

As usinas hidrelétricas são importantes fontes de energia elétrica no Brasil, mas a construção de suas barragens afeta os cursos d’água e, consequentemente, a piracema. Como essa migração é fundamental no processo reprodutivo dos peixes migradores, elas impactam seriamente a população destes animais.

A legislação federal garante a implantação de métodos que facilitem a migração de peixes através das barragens, como escadas, eclusas e elevadores. Essas táticas são construídas através ou ao redor das barragens, sendo as escadas, uma das mais famosas. Elas facilitam a subida e descida dos peixes, porém se trata de um método cuja efetividade é questionada.

 

Foto: Brasil Escola

Além das barragens, outro fator prejudicial à piracema é a pesca. Como cardumes inteiros costumam migrar juntos, de forma chamativa, a pesca nesse período pode ser extremamente lucrativa. Porém o impacto da retirada de um grande número de indivíduos pode ser enorme.

Período de defeso

Durante a piracema institui-se o chamado período de defeso, onde a pesca fica proibida, sujeita a penalizações. Como a piracema ocorre em períodos específicos em cada espécie, sofrendo variações dentro do extenso território brasileiro, o período de defeso varia dentro do território brasileiro. Porém, de modo geral, a piracema costuma ocorrer em períodos que variam entre os meses de setembro e março no Brasil.

Foto: Biologia Net

Em alguns lugares ela tem início oficial hoje, dia 01 de novembro. Esses períodos podem ser consultados no site oficial do IBAMA, separados por cada bacia hidrográfica. As restrições também variam dentro de cada estado, sendo que em alguns é permitida a pesca de subsistência, e até a esportiva, durante a piracema.

E aí, gostou de saber essas curiosidades sobre a piracema? Conta pra gente nos comentários!

 

Texto por Lidiane Nishimoto

Revisado por Gustavo Figueirôa